sábado, janeiro 23, 2021

Sábado, 23. 

Tenho por hábito seguir o blogue de Rentes de Carvalho. O escritor vive na Holanda, mas está na sua terra natal no Norte de Portugal há dois ou três meses porque (julgo) não pode regressar ao país onde vive há muitos anos. Nonagenário, deve estar a atravessar uma qualquer depressão como tantos de nós. Daí que eu não consiga saber ao certo por que se bate. Quer-me parecer que discorda como eu das políticas e habilidades de António Costa & companhia, mas também do confinamento que pensa ser a forma encontrada para combater a liberdade e lançar o medo nas populações. O seu desespero é tal que ontem anotou (escrevendo) em forma de prece o Pai-Nosso - a oração que Jesus evocou ao dirigir-se ao Pai. Comovente. 

         - Lendo o artigo de António Barreto no Público de hoje, congratulo-me por termos ambos as mesmas ideias e princípios que eu aqui levantei várias vezes ao longo deste mês, a propósito da actuação governamental e do estado do país mergulhado na terceira vaga Covid-19. Nunca me arrependerei de dizer o que penso e à minha maneira, com as palavras que a reflexão me fornece e a inconformidade e liberdade me incentivam. Sei bem que usufruo da liberdade de pensar que, se vivesse na China ou na Rússia, já estaria na prisão como aqueles que ousam pensar contrário dos tiranos. 

         - Como, por exemplo, aquela do primeiro-ministro, depois de ser acossado por toda a gente para decretar o recente confinamento, veio invocar o aumento do vírus da família inglesa para o fazer só agora. Que desplante! O pior é que se lhe via no rosto a mentira. Ele bem operou para a dissimular, mas as palavras não lhe brotavam convincentes. Verdadeiramente, quem os médicos e cientistas têm de convencer que o coronavírus é real e mata, é sua excelência o chefe do Governo. 

         - O meu jornal traz uma grande e terna homenagem às vítimas do coronavírus. Soletrei cada um daqueles nomes de lágrimas nos olhos e uma prece sentida; e também aos médicos e enfermeiros e a todo o pessoal que está na linha da frente do combate. Destes seres humanos que nunca chegaremos a agradecer como é nosso dever e de joelhos, já morreram 22.122 trabalhadores da saúde. O que eu vejo nos hospitais, mais parece um ambiente de guerra. Talvez Macron tivesse razão quando no início falava de uma guerra que tínhamos de travar. Entretanto, alguém o mandou calar e ele obedeceu para salvar a pele e o poder.  

         - Saí unicamente para ir à farmácia e comprar o jornal. Ao todo, esta semana, não devo ter estado perto de quatro pessoas, incluindo a farmacêutica. Agora tenho uma inflamação no calcanhar da perna que as raparigas solteiras cobiçam com desvelo. Tempo sinistro, tempo quaresmal antecipado. Tantos dos nossos melhores nos deixam! Parece que o mundo se vai esvaziando aos poucos, as ruas desertas, as cidades vazias, o silêncio da morte cirandando por todo o lado.