domingo, janeiro 10, 2021

Domingo, 10. 

Quarta-feira, ao acartar um tronco pesado para dentro de casa, dei um jeito à perna que só aos homens interessa, e o joelho ressentiu-se e eu paralisei. Já antes, talvez motivado pelo peso da lenha com o frio das manhãs e dos fins de tarde, comecei a sentir dores em toda a zona lombar como me aconteceu em Janeiro do ano passado. Logo me socorri do Arthotec que o Tó me receitou há anos e do Picalm. As dores todavia, não abrandaram e pelo contrário iam-se tornando insuportáveis. Até que sexta-feira, tendo-me telefonado o Alain e depois a Glória, encontraram-me num estado lamentável de sofrimento. Glória e Raul largaram tudo e vieram em meu auxílio. Chegaram com o Jipe aquecido e meteram-me com grande dificuldade lá dentro sem me dizerem para aonde rumavam. Vi-me num instante em Setúbal, no hospital particular. Entro pelas urgências e sou daí a um quarto de hora introduzido num gabinete onde vou ficar mais meia hora até que chega uma médica espanhola que me observa. De pronto concluiu: primeiro, que o medicamento do Tó não servia para o meu caso; segundo, que lhe parecia ter eu uma contracção muscular grave. Transito então para um gabinete onde abanco numa poltrona, ao lado de mais três pacientes. Outra demorada espera. Por fim, aparece um enfermeiro que me diz que arregace a camisa para me administrar uma injecção na veia do braço sem que antes me dê a beber um laxante que me não relaxou porra nenhuma (para utilizar uma expressão do Carlos).  Vou ter que esperar ainda mais meia-hora, espaço que deu tempo aos meus vizinhos para debandarem. De tempos a tempos, o enfermeiro pergunta-me se ainda sinto dores. Para me ver livre daquele antro e preocupado com os meus amigos em espera, digo que me sinto óptimo. Chega por fim a doutora que me vê de perna cruzada e me diz: “Já está de perna cruzada isso é bom.” Volta a ausentar-se. Fico ali, só, a observar o movimento dos enfermeiros e auxiliares. Continuo com o cateter no braço e digo ao enfermeiro para mo tirar “porque quero-me ir embora”. Ele responde que não o faz enquanto não receber ordens da doutoraça. Esta vêm, por fim, dando-me alta. Impressão geral da unidade hospitalar: boa, cuidados com contágios Covid, rapidez no atendimento e fica por provar se o tratamento e a análise clínica foram correctos. Fico-me por aqui, embora tenha mais a acrescentar. Amanhã se estiver para aí voltado e não andar aos ais com dores. 

         - Pelo que se vê e eu nas condições de saúde acompanhei, o lodaçal político em que vive o país é uma desonra e uma vergonha para a democracia e para os portugueses. Se é esta gente que nos quer governar, mais vale ir viver para um qualquer país do terceiro mundo – é igual e não temos ilusões. 

         - Neste entretanto, ocorreram tantos acontecimentos que mereceriam um apontamento, mas não estou com miolo para os narrar. Frio siberiano. A Piedade, generosamente, vem acender-me as lareiras para eu não carregar lenha cá para dentro. Escrevo de gorro diante do aparelho a gás.