quarta-feira, janeiro 20, 2021

Quarta, 20.

Só a pressão demove António Costa de prosseguir na péssima orientação relativamente à Covid-19. A ele e ao sacristão Marcelo Rebelo de Sousa. O resultado da abertura no Natal e fim-de-ano que, de resto, foi aprovada por todos os blocos partidários no Parlamento, trouxe centenas de mortos e um assustador número de infectados por coronavírus, transformando os hospitais numa loucura que sacode a morte e o sofrimento para as ruas da amargura colectiva. O recente confinamento foi uma espécie de comédia que pôs a ridículo o Governo e divertiu os simples que aproveitaram as “excepções à lei” para gozar os dias banhados de sol e as praias desertas até aqui. Agora, enfim, parece que Costa vai fechar escolas e outros organismos, a exemplo do que fez em Março e Abril do ano passado, isto se suas excelências decidirem marcar a reunião com os técnicos de imediato. Em Portugal tudo é madraço, e os mortos podem esperar que Costa e Marcelo se dignem enfrentar o problema. A primeira resposta à terceira vaga do coronavírus que aproveitou da negligência dos governantes para se difundir por todo o lado, vai ser dada com a abstenção de domingo. Se esta for de mais de 70 por cento, para mim, as eleições deviam ser repetidas noutro momento propício. Não podemos ter - a democracia não autoriza -, um Presidente aprovado por 30 por cento da população votante. 

         - Sim, é insuportável viver desta forma antinatural. Até eu que por escolha de vida me vi sempre confinado, vejo-me agora contrariado por ser a pandemia a reter-me em casa e não eu a exercer o meu direito de escolher viver como melhor me apraz. Este mundo crepuscular onde as pessoas dialogam do fundo do medo, da distância e da desconfiança, é um mundo inumano que espelha os primórdios da humanidade quando as guerras, os ódios e a exploração humana, eram a normativa do comportamento social. Depois, Jesus Cristo instituiu o Amor e foi o grande embate que aproximou os homens e destruiu os prepotentes, os ídolos e os tiranos, irmanando numa mesma família a humanidade inteira. Somos parte de um todo, cada um de nós é único na imensidade da diversidade. Este hiato que nos afasta hoje, servirá um dia para nos reencontrar numa outra qualquer forma de vida mais equilibrada, simples, em torno da justiça que todos e a cada um abraça.  

         - Às oito da manhã franqueava a porta do Auchan. Por lá andei a fazer as compras necessárias, junto com meia dúzia de fregueses, alguns jovens (que me surpreendeu) outros nem tanto. Almocei os restos que sobraram de ontem e anteontem e logo de seguida mergulhei na parte final do romance de Francisco José Viegas, A Luz de Pequim. Que deslumbre! Que surpresa encontrar um autor deste gabarito, ainda por cima português, e, segundo pressinto, com fortes ligações à literatura europeia, nomeadamente, francesa. Foi a grande descoberta que me deu uma felicidade imensa e dou de conselho aos meus leitores leiam este romance bem escrito, com todos os elementos narrativos e romanescos intercalados numa impressionante teia policial que serve ao narrador para entrar na sociedade mesquinha e lobriga que é a nossa. Vento e chuva. Tempo desagradável. Nenhuma réstia de sol desceu das alturas. Vou fazer uma sopa.