segunda-feira, janeiro 04, 2021

Segunda, 4.

Respigo do blogue de Rentes de Carvalho: “Já vezes sem conta o desejei, o terramoto que limpasse este país da pobreza, do desleixo, da batota e do faz de conta, dos robertos tão miseráveis que nem escondem os cordelinhos. Robertos desavergonhados, que vivem de mão estendida, mas acham sempre pouco o que lhes dão por caridade. Podem bazofiar, fingir que o ganham e, parolos, chamar-lhe bazuca, mas triste país o que vive de mão estendida e desespera quando a UE demora com o  Subsídio de Reinserção Social.” Assino de cruz. 

         - Um grupo editorial onde só conheço duas editoras, mandou-me um mail desafiando-me a enviar-lhe um original com resposta “dentro de 10 dias”. Cheira-me que aquilo é dirigido ou alimentado por aquela “editora” que me rotulou de génio e original e logo a seguir, como não alinhei em desembolsar 2 mil euros, passei a autor medíocre. A essa “editora”, o que penso, é que algo de O Rés-do-Chão de Madame Juju lhes ficou a bater na moleirinha, porque a partir daí nunca mais me largaram. Eu mantenho-me na minha: se acham que algum mérito tem o meu trabalho, que apostem nele. Da minha parte, recuso-me a pagar para trabalhar. A escrita, como já aqui disse vastas vezes, é um acto sagrado e como tal deve merecer o máximo respeito. Já basta aquela que me ficou a dever direitos de autor no valor de 12 mil euros. 

         - Ontem esteve aqui muito frio. Vai daí, como tinha a sala de jantar aquecida, foi lá que jantei diante da salamandra. Estranho momento que teve a duração de um festim em família. As cinco luzes do lustre acesas, diante do grande tapete de casamento que comprei na Tunísia, a larga mesa com a terrina Viúva de Lamego ao centro, os quadros do Rocha Pinto e do Robert nas paredes, sob uma atmosfera festiva, como se os convivas ali estivessem comigo, deu-me uma alegria intensa, irreal, mas concreta a um tempo, porque a animação era muita e eu vivendo-a por dentro era o folião mais irrequieto do todo o grupo. 

         - Fui a Lisboa. Primeiro, na Brasileira com o António, Teresa, Carlos, João. De seguida, com estes dois, almocei no Roma Vitta que começou dentro do estabelecimento e terminou na esplanada. Grande e nem sempre sossegada conversa. Mesmo assim, apesar do frio, estendemo-nos em viagens sobre arte que nos levaram a vários pontos do globo. Acabei de acender a lareira no salão. O frio amainou. Só engrossou o silêncio. São 17 horas e 24 minutos.