quinta-feira, janeiro 28, 2021

Quinta, 28.

É aflitivo o que se passa em Portugal no domínio do combate à pandemia. Todos os dias mais 15 mil novos casos e as estruturas a rebentar pelas costuras. Costa veio dizer que a coisa está preta e se tivesse sido informado antes do Natal que o resultado era esta lamentável situação, nunca teria permitido o de confinamento. O que é uma rotunda mentira à boa maneira de governar do primeiro-ministro. Muitos cientistas e médicos alertaram-no, mas ele com Marcelo de braço dado, quis oferecer aos portugueses ignorantes e negacionistas, uma época de folclore no pressuposto que isso lhes daria votos. Tão criminosos são os dois, como os nossos concidadãos que andaram em festas colectivas por casas e bares, discotecas e sótãos. 

         - Eu gosto de me centrar na praxis do dia-a-dia que é muito mais verdadeira do que a propaganda. O Filipe contou-me que andou com o pai em bolandas, numa aflição, este fim-de-semana, o progenitor a ficar-se-lhe nos braços com falta de ar, até que o hospital aqui perto o recebeu depois de um outro lhe ter aplicado oxigénio e o ter mandado para casa. Ulteriormente, ele lembrou-se de que o país não mudou nada contrariamente ao que nos quer fazer querer a dita esquerda. Então, telefonou a uma amiga que trabalha num hospital, prontamente socorreu o pai e o internou. A mãe também está assintomática e ele, zeloso filho, deixou a mulher e os dois filhos, e instalou-se na casa paterna para ajudar a mãe. É ele que cozinha e faz o serviço de casa. Dialogam, mãe e filho, através da porta de isolamento. Até ao momento, felizmente, o meu amigo não está positivo.   

         - Como tudo muda! Marquei para a próxima semana uma consulta com o ortopedista no SAMES, porque as empresas que estão associadas ao SNS passaram a cobrar os serviços. Nalguns casos o valor é tão elevado que, fazendo as contas, é mais vantajoso dispensar a saúde pública e tratarmo-nos nos privados. Eu conheço a teoria da esquerda e sou incondicional do SNS; mas enquanto o delírio do BE e PCP prossegue sem resultados, os doentes querem ser tratados e livrados do sofrimento.  

         - Por sobre tanto e tão profundo desespero, continuemos. Trabalhei no romance e comecei a ler Valter Hugo Mãe, Homens imprudentemente poéticos. À parte isso, acudo às pequenas coisas da vida: levei o carro à oficina, fui ao super, falei com os amigos ao telefone: Teresa, António, Carmo Pólvora, Alzira. Tempo moche. Cito Verlaine: Il pleure dans mon coeur / comme il pleut sur da ville.