Terça,
5.
Os
idiotas do futebol, felizmente, têm quem pense por eles – e bem. As ideias do
Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Sr. Fernando Gomes, são um aviso
para levar a sério. Diz ele que “o futuro do futebol não está garantido”, por
isso, “o bem maior do acionista, digo-o sem reservas, é a sua empresa, o seu
clube, a missão que persegue e não o lucro conjuntural de um ano ou outro”.
Mais adiante: “São dois mil os clubes (cruzes!!) que competem em Portugal.
Número semelhante de jogadores profissionais (a maior parte, digo eu, escravos
ao serviço dos ganhos criminosos daqueles que, mesmo auferindo somas
astronómicas, ainda fogem ao fisco). No final: “As pessoas conseguem viver sem
futebol.” Eu sou a prova. Nunca vi na minha vida um só jogo de futebol e, juro, não
me sinto minimamente diminuído, pelo contrário. Volto a dar-lhe a palavra para
fazer o contraponto com o que acabei de dizer, sendo certo para mim que elas - as palavras do dirigente desportivo -, neste parágrafo, não passam de sabão azul
e branco no corpo suado dos espectadores: “É verdade que viverão pior, que
serão mais pobres, que lhes faltará o prazer estético (?), a emoção, a alegria,
a comunhão, a paixão. Mas viverão.”
- Acabei os dois volumes do Diário de
Virginia Woolf (Ed. Bertrand). Ao todo 1.163 páginas de uma vida descarnada com
obsessão, alguma loucura e que terminou no suicídio. A eles voltarei noutra
altura.
- Uma calmaria habitou-me todo o santo
dia. Passei parte da manhã a responder a e-mails. Falei com a Annie e Robert ao
telefone. Hora e meia de trabalho com a roçadora. Nenhum cansaço, leve hossana
a subir do meu corpo espargido de júbilo. O trabalho é uma bênção do céu que
não só nos dignifica, como nos cura de todos os males. Única inquietação: não
ter entrado no oceano imensurável do romance. Mas não desanimo – construi uma
carapaça sólida contra o desânimo e o esforço que me espera.