Quinta,
28.
A
Maya anda há uma semana a prever-me um grande amor que enfeitiçará os meus sentidos.
Mas nada. Absolutamente rien de rien. A
menos que fosse a abordagem outro dia no Chiado, recheada de sorrisos alvos,
voz melodiosa, alguma timidez, desafiando-me para um passo de dança. O problema
é que não sei dançar o tango e para aprender preciso de tempo que não tenho. De
modo que...
- Ficou do dia de anteontem, o afago
de prazer do café com um babá embebido em rum no Vitta Roma enquanto fazia horas
para embarcar de volta a casa
- As mulheres de Zuckerberg voltaram.
Acordaram-me pelas seis da manhã como se estivessem debaixo da minha janela. De
facto, estavam junto à vedação que separa as duas propriedades, a uns dez metros.
Não percebi o que andavam a fazer nesta altura do ano, com a vinha feita, o
manto verde belíssimo a perder de vista. Ouvi-as tagarelar sobre a vida alheia
que alimenta milhões no Facebook. Chegam sempre com um homem que quase não se
ouve, talvez porque não tenha Facebook e quem não usa esta ferramenta não
existe, ou antes, nunca chegou a nascer. Só se foram pelo meio-dia. Suportaram
o calor abafadiço que se instalou desde as primeiras horas do dia.
- É da costumança. Não me sai da
cabeça o romance. Seja no Auchan de onde acabei de entrar, ao volante, quando
almoço, mesmo quando leio, Semyon atravessa-se no meu pensar. No exercício obsessivo
de arquitectar a história, encontrei o modo como o rapaz vai desfazer-se da mãe,
a senhora Nataya Yuliova. As pontas começam a juntar-se, ansiando eu pela
disciplina quotidiana da escrita.
- Reuniram “os mais altos magistrados
da nação” para analisar o andamento da Covid-19. Contudo, o que esteve em cima
da mesa não parece ter sido a pandemia, mas a economia. Porque se estivesse nas
preocupações dos governantes os novos infectados que não param de aumentar,
teríamos outro discurso na boca no nosso impagável Presidente da República. Sua
excelência está em todas, uma vez que se recusa a confinar-se com eleições no
próximo ano. O que ele quer não é vencer as eleições que essas estão-lhe no
papo; deseja ser o Presidente mais popular desde a chegada da democracia. Não
deixa obra palpável neste seu primeiro mandato, mas isso pouco importa para a
populaça das selfis e dos afectos
húmidos.
Estas bombas que aqui abundam, são inimigas do coronavírus |
- 36 graus. Andei de enxada a capinar no
pequeno espaço de hortências junto à piscina. Queria inaugurar a época estival,
mas não há produtos para a água em parte nenhuma. Como as fronteiras abrem na
próxima semana, vou fazer como de costume e fazem os comerciantes que
inflacionam os preços logo à saída das lojas de Badajoz, e vou lá buscar o que
necessito por metade do preço. O João e a mulher já se adiantaram para o
passeio.