quinta-feira, maio 28, 2020

Quinta, 28.
A Maya anda há uma semana a prever-me um grande amor que enfeitiçará os meus sentidos. Mas nada. Absolutamente rien de rien. A menos que fosse a abordagem outro dia no Chiado, recheada de sorrisos alvos, voz melodiosa, alguma timidez, desafiando-me para um passo de dança. O problema é que não sei dançar o tango e para aprender preciso de tempo que não tenho. De modo que...

         - Ficou do dia de anteontem, o afago de prazer do café com um babá embebido em rum no Vitta Roma enquanto fazia horas para embarcar de volta a casa

         - As mulheres de Zuckerberg voltaram. Acordaram-me pelas seis da manhã como se estivessem debaixo da minha janela. De facto, estavam junto à vedação que separa as duas propriedades, a uns dez metros. Não percebi o que andavam a fazer nesta altura do ano, com a vinha feita, o manto verde belíssimo a perder de vista. Ouvi-as tagarelar sobre a vida alheia que alimenta milhões no Facebook. Chegam sempre com um homem que quase não se ouve, talvez porque não tenha Facebook e quem não usa esta ferramenta não existe, ou antes, nunca chegou a nascer. Só se foram pelo meio-dia. Suportaram o calor abafadiço que se instalou desde as primeiras horas do dia.

         - É da costumança. Não me sai da cabeça o romance. Seja no Auchan de onde acabei de entrar, ao volante, quando almoço, mesmo quando leio, Semyon atravessa-se no meu pensar. No exercício obsessivo de arquitectar a história, encontrei o modo como o rapaz vai desfazer-se da mãe, a senhora Nataya Yuliova. As pontas começam a juntar-se, ansiando eu pela disciplina quotidiana da escrita.  

         - Reuniram “os mais altos magistrados da nação” para analisar o andamento da Covid-19. Contudo, o que esteve em cima da mesa não parece ter sido a pandemia, mas a economia. Porque se estivesse nas preocupações dos governantes os novos infectados que não param de aumentar, teríamos outro discurso na boca no nosso impagável Presidente da República. Sua excelência está em todas, uma vez que se recusa a confinar-se com eleições no próximo ano. O que ele quer não é vencer as eleições que essas estão-lhe no papo; deseja ser o Presidente mais popular desde a chegada da democracia. Não deixa obra palpável neste seu primeiro mandato, mas isso pouco importa para a populaça das selfis e dos afectos húmidos.   

Estas bombas que aqui abundam, são inimigas do coronavírus  

         - 36 graus. Andei de enxada a capinar no pequeno espaço de hortências junto à piscina. Queria inaugurar a época estival, mas não há produtos para a água em parte nenhuma. Como as fronteiras abrem na próxima semana, vou fazer como de costume e fazem os comerciantes que inflacionam os preços logo à saída das lojas de Badajoz, e vou lá buscar o que necessito por metade do preço. O João e a mulher já se adiantaram para o passeio.