Sexta, 15.
Claro
está que estou absolutamente em desacordo com os 2 milhões que o Novo Banco
insiste em dar de prémio aos administradores. Esta gente que administra empresas
falidas, se socorre despudoradamente do Estado e ainda por cima exige receber
mais-valias que não existem, não me merece qualquer respeito. São agiotas no
mais puro sentido do termo. Acresce que o prémio, sai directamente da
conta-corrente dos contribuintes, e da injecção de mais uma tranche de 850
milhões que tanta polémica causou retirada do mesmo saco. Esta é a imagem do
capitalismo moderno de olho na mancha cada vez maior de pobreza, sobre a qual
velam com avidez, ampliando-a todos os dias. Porque a verdade é esta: só
existem pobres porque existem ricos. Quanto mais miseráveis aqueles; mais
abastados estes. Os governos que tinham obrigação de vigiar por estas
criminosas diferenças, estão reféns do capitalismo desumano que vai crescendo selvagemente.
- Tenho algum parti pris quanto a Rui Tavares, mas desta vez não deixo de lhe dar
inteira razão, quando afirma no Público de hoje: “Pode ser um segredo de
polichinelo que Marcelo Rebelo de Sousa se vá candidatar de novo à Presidência
da República, e que António Costa o queira apoiar. Ainda assim não deixa de ser
uma grande falta de decoro republicano que esse apoio tenha aparecido da forma
como apareceu, no contexto em que apareceu e no momento em que apareceu.” De
facto, há muito que sabemos que os dois comparsas se apoiam mutuamente, cada um
defendendo as suas ambições, montados na hipocrisia e no cinismo político.
Ambos são candidatos à renovação dos seus postos governamentais... e não se
fala mais nisso. Um símile proporcional à importância que cada um exibe.
- Estou a ler o Journal d´Espagne de Jean Chalon (um das duas dezenas de livros que
trouxe de Paris). O jornalista e escritor, encontrava-se amiúde com Julien
Green, topava-o bem. Um dia Green telefona para o Figaro onde Chalon trabalhou toda a vida até à reforma e diz-lhe
que quer falar com ele. Encontro marcado
e que deseja o ilustre escritor? Que Jean escreva um artigo sobre o seu amigo,
padre Dodin. O jornalista recusa. Comentário do diarista em 20 de Agosto 1981:
“Il ne viendrait pas à la tête de Green de faire lui-même un article sur son
cher père Dodin.” E conclui: “Green n´a jamais rien fait pour personne, c´est
l´égoisme personnifié.”
- Agora que me ocorre. A Annie, sempre
que me telefona, pergunta-se quando nos voltaremos a ver. Aconteceu ontem.
Depois acrescentou: Não tens saudades (ela aprendeu a palavra e utiliza-a com
frequência e oportunamente) de Paris? Sim, dos museus, das livrarias. E logo
ela, decepcionada: Oh, pensei que era de mim! E eu com sinceridade: também.
- Enfim, o sol jorrou sem-pudor. Continuei
a cortar a erva daninha à volta da piscina, fui, oh!, tomar uma bica ao café,
li sentado lá fora ao quente. Este Maio desenxabido, com frio, chuva, trovões e
vento obrigou-me à manta nos joelhos, ao retorno do edredão que havia pedido à
Piedade retirasse da cama e por pouco a acender a lareira. Falei à Conceição.