sexta-feira, maio 15, 2020

Sexta, 15.
Claro está que estou absolutamente em desacordo com os 2 milhões que o Novo Banco insiste em dar de prémio aos administradores. Esta gente que administra empresas falidas, se socorre despudoradamente do Estado e ainda por cima exige receber mais-valias que não existem, não me merece qualquer respeito. São agiotas no mais puro sentido do termo. Acresce que o prémio, sai directamente da conta-corrente dos contribuintes, e da injecção de mais uma tranche de 850 milhões que tanta polémica causou retirada do mesmo saco. Esta é a imagem do capitalismo moderno de olho na mancha cada vez maior de pobreza, sobre a qual velam com avidez, ampliando-a todos os dias. Porque a verdade é esta: só existem pobres porque existem ricos. Quanto mais miseráveis aqueles; mais abastados estes. Os governos que tinham obrigação de vigiar por estas criminosas diferenças, estão reféns do capitalismo desumano que vai crescendo selvagemente.

         - Tenho algum parti pris quanto a Rui Tavares, mas desta vez não deixo de lhe dar inteira razão, quando afirma no Público de hoje: “Pode ser um segredo de polichinelo que Marcelo Rebelo de Sousa se vá candidatar de novo à Presidência da República, e que António Costa o queira apoiar. Ainda assim não deixa de ser uma grande falta de decoro republicano que esse apoio tenha aparecido da forma como apareceu, no contexto em que apareceu e no momento em que apareceu.” De facto, há muito que sabemos que os dois comparsas se apoiam mutuamente, cada um defendendo as suas ambições, montados na hipocrisia e no cinismo político. Ambos são candidatos à renovação dos seus postos governamentais... e não se fala mais nisso. Um símile proporcional à importância que cada um exibe.

         - Estou a ler o Journal d´Espagne de Jean Chalon (um das duas dezenas de livros que trouxe de Paris). O jornalista e escritor, encontrava-se amiúde com Julien Green, topava-o bem. Um dia Green telefona para o Figaro onde Chalon trabalhou toda a vida até à reforma e diz-lhe que quer falar com ele.  Encontro marcado e que deseja o ilustre escritor? Que Jean escreva um artigo sobre o seu amigo, padre Dodin. O jornalista recusa. Comentário do diarista em 20 de Agosto 1981: “Il ne viendrait pas à la tête de Green de faire lui-même un article sur son cher père Dodin.” E conclui: “Green n´a jamais rien fait pour personne, c´est l´égoisme personnifié.”

         - Agora que me ocorre. A Annie, sempre que me telefona, pergunta-se quando nos voltaremos a ver. Aconteceu ontem. Depois acrescentou: Não tens saudades (ela aprendeu a palavra e utiliza-a com frequência e oportunamente) de Paris? Sim, dos museus, das livrarias. E logo ela, decepcionada: Oh, pensei que era de mim! E eu com sinceridade: também.


         - Enfim, o sol jorrou sem-pudor. Continuei a cortar a erva daninha à volta da piscina, fui, oh!, tomar uma bica ao café, li sentado lá fora ao quente. Este Maio desenxabido, com frio, chuva, trovões e vento obrigou-me à manta nos joelhos, ao retorno do edredão que havia pedido à Piedade retirasse da cama e por pouco a acender a lareira. Falei à Conceição.