sexta-feira, maio 29, 2020

Sexta, 29.
António Costa está tão receoso como qualquer português e pensa fechar uma parte da Grande Lisboa onde os novos casos de coronavírus não param de crescer. Sou dos que pensam que o de confinamento foi precipitado e para acalmar os homens de negócios que vêem os lucros a cair. A verdade, porém, está inteira nos números: desde que começou a liberalização do comércio (3 de Maio), segundo as minhas contas, há mais  6.383 novos casos e mais 346 mortes. Deve ser por isto que as ruas, transportes públicos, restaurantes, lojas e escolas estão vazias. Os portugueses têm medo de retomar a vida normal.

         - Há uma cena horrenda e criminosa e impossível de me sair da mente: a morte de um afro-americano por um polícia nas ruas de Minneapolis, no Minnesota. A técnica é simples e eficaz e foi mostrada para todo o mundo por uma cadeia de televisão: o infeliz está no chão e sobre o pescoço tem o joelho do agente da autoridade. O pobre grita que não pode respirar, o polícia não se comove. É preto deve ser assassino e ladrão e tem de morrer. Transportado ao hospital, chega já sem vida. O que se seguiu e acontece desde quarta-feira, foi a revolta: casas incendiadas, mais uma morte, pilhagens, o caos. A Guarda Nacional é chamada a intervir. Trump ameaça com balas reais e chama aos manifestantes nomes inqualificáveis para um Presidente de todos os americanos. Dir-me-ão pobre América. Sim. Sobretudo, pobres cidadãos abandonados à pobreza, ao desemprego, à vida miserável. Mas quem pôs no pedestal da importância Trump? Naturalmente o dinheiro, a ignorância popular, o populismo – tudo isto de costas voltadas à democracia.

         - Noutro continente, utilizando métodos idênticos, está Xi Ximping ping ping, o autocrático senhor da China. Adeus ao acordo entre o Reino Unido e a China, um país, dois sistemas. A partir de agora a manápula tirânica da China sobre Hong Kong é absoluta e a liberdade foi esmagada para sempre. De nada serve a vitória recente da pró-democracia, a autonomia do país está posta em causa, a Constituição do território fechada na gaveta. Resta-nos o apoio – se este vier a acontecer – das principais democracias ocidentais, norte-americanas e outras mais à causa dos jovens que durante seis meses se bateram nas ruas. Ou a coragem, o denodo, do povo de Hong Kong que, estou certo, tem na liberdade a essência suprema da sua existência.  


         - Regas. Carros de erva daninha levados para o fundo da quinta para queimar no inverno. Falei com o António Carmo, a Alzira. 35 graus. Impossível estar na rua depois das dez da manhã. Estou de novo sem parabólica, aguardo a vinda do técnico. A Annie mandou-me esta triste imagem do Portugal que reclama com avidez pela vinda dos turistas.