Sábado,
9.
Quem
anda cá por baixo e se mistura na raiz original de um povo, percebe melhor a
sua qualidade ou a sua espécie. O momento - este e outros que nos põem à prova
-, são absolutamente essenciais para termos acesso ao que se esconde nas traseiras
de uma sociedade, a violência e a incivilidade que forma as massas que tanto
dizem aos políticos e a mim me repugnam. Quem por estes tempos se acerca dessas
filas aterradoras de mulheres pindéricas, ávidas por serem as primeiras a
entrar nos supermercados, empurrando carrinhos como quem enxota moscas, carregando
à cintura um pote de banha, desvairadas de medo que lhes falte o que procuram, não
respeitando prioridades de velhos e deficientes, alucinadas e loucas, são o
retrato de um certo estrato da sociedade portuguesa - reles, grosseiro, medonho
esteticamente, vivo e pateta. É com este jaez que os políticos contam para
empunhar a bandeirinha partidária e a Igreja encher os templos.
- O PCP quer voltar a impor a sua
força como fez no Primeiro de Maio. Desta vez, sob a bandeira do Avante, insiste em encher a Atalaia do
seu povo pró-activo em manifestações de toda a ordem, isto é, 10 por cento dos
votantes. Invoca, curiosamente, o facto
de a Festa “não ser um simples festival de música”, antes a maneira de manter
viva, injectando dinheiro e notoriedade nos meios de comunicação, a ideologia
que escora o partido. Isto depois de o Governo não permitir qualquer realização
de festivais de Verão até 30 de Setembro (os comunistas agendaram “a
manifestação cultural” para 4, 5 e 6 do mesmo mês). Vamos ver quem ganha o tour de force, sendo certo que num país surreal,
o mais pobre da Europa, o único onde os comunistas conseguem 10%, é ele que vai
levar a melhor. Nos países desenvolvidos, cultural e economicamente, nunca um
Partido Comunista se atreveria a tanto, pelo simples facto que nem existe. O
último baluarte, talvez tenha sido o estalinista Georges Marchais, cujo jornal L´Humanité (primo do Avante), fundado por Jean Jaurès, teve sede em Saint Denis que eu
conheci.
- Se o Parlamento é a representação do
país, então estamos conversados quanto à fantochada das máscaras utilizadas
pelos deputados - primeiro-ministro incluído.
- Estou duplamente confinado. O carro
trancou durante a noite com a chave na ignição. Mas se julgam que me chateio,
nem um pouco. Chove docemente, o céu está da cor do chumbo, o cuco palreia
apesar de não haver sol. Que mais quero eu! Falei com Carlos Soares, Mário
(advogado), Conceição, António Carmo, Robert apreensivo com a mulher que foi de
urgência para o hospital devido a sintomas que parecem ser os do coronavírus.