segunda-feira, maio 11, 2020

Segunda, 11.
O simpático dirigente comunista, Jerónimo de Sousa, insiste na Festa do Avante, indo ao ponto de dizer que “os comunistas portugueses são muito criativos”. Disso ninguém tem dúvidas. Basta ver a percentagem que eles têm num país que, embora integrando a UE onde nenhum outro existe, conseguem manter-se à tona. O que eu estranho, é que qualquer membro do Governo lhe explique que o que está em jogo não é a Festa, mas o número de participantes e as regras impostas para os defender (e nos defender a todos) do coronavírus.

         - António Costa vai a pouco e pouco cedendo por amor da economia. Vejamos, há uma semana que começou a levantar as interdições. Tenho aqui os números saídos no Publico de hoje: Casos confirmados: 27.581 (mais 2.391); mortes: 1135 (mais 112). Talvez os negócios estejam satisfeitos, mas os infectados e os familiares dos falecidos, não. Talvez o consumo prospere, mas sobre campos rasos de sepulturas. Apetece dizer: descansem os que desejam que a vida antes da Covid-19 volte, ela virá com todas as metamorfoses fortalecidas – a tanto obriga a sociedade de consumo. Schopenhauer falecido em 1814, é o filósofo mais actual que nenhum outro nosso contemporâneo. Afirma ele: “ La douleur, c´est la vie elle-même.” Qualquer médico subscreve esta afirmação. Ou ainda: “La vie est une guerre sans trêve, et l´on meurt les armes à la main.” Esta parece do agrado dos gananciosos e ditadores que julgam com o seu poder desobrigar-se de morrer. Dito isto, nem tudo é mau. Vimo-nos livres do futebol e dos archi-tolos que o dirigem, o clima está a reconhecer-se como antes da loucura humana, a política ficou menos bufona e a magia desapareceu, o consumo reduziu criando economias, o mundo ficou mais humanizado e equilibrado. Tudo isto seria uma bênção, se não tivesse trazido tanto desemprego, pobreza, doença. Todas estas tristezas deviam merecer dos que nos governam uma reflexão muito profunda, porque em última análise, é a eles que se devem. Com ou sem coronavírus, era visível o desastre que a falta de projectos sociais e económicos conduzem. Governar para votos e interesses de uns quantos ambiciosos, é nisto que dá. No final, é sempre o mesmo que sofre. 

         - Ontem quase não levantei em todo o dia os olhos da escrita. Horas a fio mergulhado, com a cabeça de fora, num estuário onde flutuava um imenso murmúrio de vozes, ilhas e espaços sem fim. O nível de excitação atingiu o zénite e quando parei para aliviar a tensão, lembrei-me de medir a temperatura: 36,7. Acontece, nos dias que correm, tomar a temperatura corporal duas vezes: manhã e noite – anda entre 35,2 e 36,4. Desobriguei-me de medir a tensão. Chega!


         - Manhã brumosa, ventosa, húmida e triste. Encerrado em casa, tentei criar a luz que os meus olhos necessitam para ver as cores encantadoras do Universo.