Segunda,
25.
Xi
Xinping ping ping quer amordaçar a liberdade do povo de Hong Kong. Com aquela
cara moribunda de um estaticismo ameaçador, à boa maneira chinesa, vai levando
paulatinamente a água manchada de sangue ao seu moinho. Desta vez, impondo uma
lei dita de segurança, a proibir acções secessionistas, terrorismo e
interferência externa. Uma tal lei tão inclusiva, vai permitir tudo e algo
mais. Uma lei que não carece de legislação local e, portanto, passa por cima do
Conselho Legislativo: ping, ping, ping. E lembrar-me eu que uma certa esquerda
portuguesa, apoia aquilo que não difere muito do que fazia Salazar!
- Ontem liguei a televisão para
assistir à missa dominical. Apanhei a celebrá-la o nosso Cardeal Patriarca de
Lisboa. Bref. O homem, em vez de
falar dos Evangelhos, de Jesus Cristo, discerniu sobre o clima, a falta de
água, e marginalmente o que devia interessar os fiéis. Porque aqueles temas, já
nos basta a hipocrisia dos políticos e dos que se dizem protectores da natureza
e ganham milhares à conta dos ingénuos. Parece que o tema de Deus está para
estes homens de solidéu cardinalício, esgotado. A homília foi do princípio ao fim
debitada com um sorrisinho que me dispenso de classificar...
- O número de infectados com
coronavírus está a aumentar desde que o país entrou em de confinamento. Não
tarda, António Costa vai ter de fazer marcha atrás. Lá se vai a santa economia!
A propósito, há um pormenor que passou despercebido, e ouvi ao
primeiro-ministro: “Os bancos só desbloqueiam verbas para negócios que se
mostrem credíveis.” Lá se vai a fanfarra dos hostels, restaurantes porta sim,
porta não, tuk tuk que não dão lucro ao Estado, porque os seus proprietários gastam-no
em jantaradas, viagens, carros e outras fantasias saloias.
- Faleceu Maria Velho da Costa.
Conheci-a quando um dia, acompanhado da Isabel da Nóbrega, fui a Costa de
Caparica onde ela se encontrava. Dizem que tinha mau-feitio. Não me pareceu.
Simplesmente, enquanto grande escritora que foi, com romances bem escritos e profundos
(refiro-me a Maina Mendes e Casas Pardas), era uma pessoa exigente,
rigorosa, que não admitia perto de si a luminária inculta que se dissemina por
todo o lado. Era, quando muito, áspera consigo e com os outros. Daí que pouca
gente gostasse dela. No nosso país o superficial e trolaró é mais convivial,
democrático, e “erudito”.
- Entrei no grande período de regas
diárias aos acantos, roseiras, morangueiros, hortênsias. Acabei de roçar o
matagal (o segundo) do lado virado ao castelo. Conversei ao telefone com o João
Corregedor (desta vez sem política, ufa!), o Mário (advogado) durante um certo
tempo, a risada medonha e salutar a travar a respiração, o Paulo Santos, o
António Carmo (satisfeito por voltar todos os dias à Brasileira). Gostas da tua
vida? Quase sempre sim, mas quando é não, é de fugir. Esta noite sonhei em
alterar o romance – e vou seguir o meu sonho. Porque tudo o que vem através da
noite, do fundo do inconsciente que trabalha sem descanso, tem sido sempre
estimulante. Por exemplo. O título do
romance O Pesadelo dos Dias Felizes (que
andava há dois anos à procura), surgiu pelas quatro da madrugada, em Paris, e
logo anotado num bloco que tenho à mesa de cabeceira. É um grande romance que
os editores têm medo de publicar, devido aos preconceitos salazarentos que subjazem
na proibição a tudo o que cheira a liberdade. Nem percebem que os desvarios do
médico Peter Santa Clara, são produto de uma horrenda depressão por ter perdido
o amor que julgava para a vida. Daí que me digam: “não temos colecção para o
tema”, ou “o tema não se enquadra na nossa linha editorial”. Nem lhes ocorre
perceber que as cenas terríveis do ponto de vista sexual, são apenas duas ou
três e o resto das 300 páginas correm ao sabor de um lirismo conceptual,
atravessado, todavia, de forte presença político-social – facto que eles
detestam. É mais fácil viver bem e em uníssono com estruturas
económico-politicas, piedosas e subterrâneas, montadas numa historieta amorosa
de lana-caprina, que observar a vida, a verdadeira, inundada de podridão e
falhanços vivenciais, numa sociedade hipócrita que não se defronta nem se questiona.
Uma sociedade sem felicidade, habitada por gente amorfa e pacóvia, que vive a
disfarçar ou a esperar os dias que antecipam a morte.