quarta-feira, maio 27, 2020

Quarta, 27.
Ontem no Fertagus, como seguimento do sonho de segunda-feira, o meu cérebro não cessou de efabular durante toda a viagem. Acho que, enfim, estou pronto para me lançar de olhos fechados no Matricida. Mantenho os três capítulos, mas no derradeiro faço a desconstrução da vida que a criança criou para si própria como forma de responder às falsidades e hipocrisias e se defender das acritudes do destino. Nesse capitulo, é revelado o mistério que acompanhou Semyon dos confins da Crimeia até ao Alentejo - lençol de solidão e, talvez, princípio de liberdade conquistada palmo a palmo. O laborioso trabalho da escrita que me aguarda, quero desempenhar-me dele com a leveza formal e narrativa, de forma a que o leitor não sinta dificuldades e a leitura se faça sem empanques. Vou escrevê-lo na primeira pessoa, dando a entender ao leitor como, de resto, já acontece com todos os meus romances publicados, que a história é minha, quero dizer, fui eu que a vivi para agora a contar. Claro que o sudário temático – como desde a Ruptura que teve o prémio revelação do Dário Popular para o romance em 1978, e foi muito bem analisado por Maria Estela Guedes – o estuário narrativo ocupar-se-á das questões sociais e desta vez psicológicas. 

         - João disse-me ontem repetidas vezes que estava magríssimo e devia consultar o médico. Pesei-me esta manhã: 64 kg. – o meu peso ideal. Com o de confinamento fica exposta nos homens e algumas mulheres a gordura acumulada em dois meses de prisão. Que elas e eles deviam ter tido atenção e reduzido para metade o que habitualmente comem e na característica do português é sempre exagerada.  

         - A máscara pode até ter a assinatura de Paula Rego, mas não deixa de ser a insígnia do crime vindo da China. 



         - Nas ruas e estações de comboio, este cartaz da Swatch. “Vai ficar tudo bem” desde que a marca registe a hora de cada óbito... bem entendido.