Quarta,
27.
Ontem
no Fertagus, como seguimento do sonho de segunda-feira, o meu cérebro não
cessou de efabular durante toda a viagem. Acho que, enfim, estou pronto para me
lançar de olhos fechados no Matricida.
Mantenho os três capítulos, mas no derradeiro faço a desconstrução da vida que
a criança criou para si própria como forma de responder às falsidades e
hipocrisias e se defender das acritudes do destino. Nesse capitulo, é revelado
o mistério que acompanhou Semyon dos confins da Crimeia até ao Alentejo -
lençol de solidão e, talvez, princípio de liberdade conquistada palmo a palmo.
O laborioso trabalho da escrita que me aguarda, quero desempenhar-me dele com a
leveza formal e narrativa, de forma a que o leitor não sinta dificuldades e a
leitura se faça sem empanques. Vou escrevê-lo na primeira pessoa, dando a
entender ao leitor como, de resto, já acontece com todos os meus romances
publicados, que a história é minha, quero dizer, fui eu que a vivi para agora a
contar. Claro que o sudário temático – como desde a Ruptura que teve o prémio revelação do Dário Popular para o romance
em 1978, e foi muito bem analisado por Maria Estela Guedes – o estuário
narrativo ocupar-se-á das questões sociais e desta vez psicológicas.
- João disse-me ontem repetidas vezes
que estava magríssimo e devia consultar o médico. Pesei-me esta manhã: 64 kg. –
o meu peso ideal. Com o de confinamento fica exposta nos homens e algumas
mulheres a gordura acumulada em dois meses de prisão. Que elas e eles deviam
ter tido atenção e reduzido para metade o que habitualmente comem e na
característica do português é sempre exagerada.
- A máscara pode até ter a assinatura
de Paula Rego, mas não deixa de ser a insígnia do crime vindo da China.
- Nas ruas e estações de comboio, este
cartaz da Swatch. “Vai ficar tudo bem” desde que a marca registe a hora de cada
óbito... bem entendido.