Sexta,
24.
Lamento
a morte do gestor do EuroBic, Nuno Ribeiro Cunha. Ao que se sabe, limitava-se a
despachar o que lhe ordenava a senhorita Isabel, sua patroa. Suicidou-se
decerto por vergonha de se ver exposto num escândalo que em verdade não lhe
dizia respeito, mas a que estava ligado por dever de ofício. Nada está ainda
esclarecido e só o tempo e as buscas dirão. Mas a grande tragédia da sua
coragem, que leva consigo não só a audácia como a vergonha, deixou-nos um
aterrador vazio. Inclino-me, respeitosamente, ante o seu arrojo e a sua
memória. Os que ficam terão de redimir na justiça esta morte. Dias virão que a verdade se imporá.
- Eu subia as escadas rolantes da
estação Baixa-Chiado, ele descia. Quando nos cruzámos, longa e insinuante olhadela.
Era um rapaz alto, magro, tronco desenvolvido e sólido, loiro e uma expressão
que denotava uns 17 anos – exemplar irresistível para Julien Green.
- Esperam-se grandes manifestações em
Paris. Chou Chou julgo que apresentava hoje a sua reforma. Por isso, as massas
de povo descontente descerá amanhã e depois à rua. Já lá vai mais de um mês que
toda a França não deixa de protestar. A juventude e competência e inteligência tão apregoadas
pelos nossos articulistas e comentadores atribuídas a Chou Chou, não coincidem com
a opinião dos franceses: os que lhe deram 30 por centos de votos e os 70 por
cento dos outros, todos nunca deixaram que o seu mandato seguisse em paz e
sossego. O homem acaba sem crédito no exterior e no interior do país.
- Alinho estas notas ao crepúsculo,
sentado no salão, o computador nos joelhos. Chove copiosamente.