quarta-feira, janeiro 08, 2020

Quarta, 8.
Para poder recentrar os dias em torno de O Matricida, tenho evitado ir a Lisboa. Isto não obstante os inúmeros convites dos tertulianos, da Alzira e da Conceição (de Sintra). Estou na fase de interiorização do tema, torná-lo mais acessível a mim mesmo, mais próximo do acto da escrita, da atmosfera que me cerca quando escrevo um romance. Porque uma obra desta envergadura, limita-nos a liberdade individual, torna-nos prisioneiro das personagens, dos seus ritmos, dos seus estados de alma, em suma, das suas existências. Irei sexta-feira para me distrair.  

         - 20 milhões de dólares foi quanto Carlos Ghosn despendeu para fugir ao fisco nipónico. É por estas e muitas outras razões que estes tipos precisam de milhões e milhões não lhes bastam. Os pobres cometem uma pequena infracção, logo os hospedam atrás das grades. Ghosn como Ronaldo, José Sócrates e outros mais, pagam para fugir da humidade e isolamento da prisão. São tão criminosos como os outros, mas possuem dinheiro para a comprar a áurea de santidade.

         - António Guterres devia bater com a porta, uma vez que não passa de um bonifrate nas mãos de Donald Trump. Que virou ditador ignorando as instituições e matando como um rei despótico atacado de vingança. Actua contra tudo e todos, faz como quer e lhe apetece, ignorando as normas internacionais, como aconteceu com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão que devia discursar nas Nações Unidas e Trump ordenou a proibição de entrada no país.

         - Centenas de pessoas feridas e meia centena de mortos no funeral de Soleomani, em Kerman sua terra natal. Não se sabe o que aconteceu, mas tudo leva a querer tratar-se de atropelo de um milhão de pessoas gritando vingança à América. Por isso, o enterro teve de ser adiado. Entretanto, para adensar a tragédia que já vai tremenda, um avião com quase duas centenas de pessoas, caiu em solo iraniano não sobrevivendo ninguém.
 
         - Enquanto os franceses lutam para manter a reforma aos 62 anos, nós vamos nos 67 e ninguém refila. Chou Chou anda em maus lençóis porque os gauleses não são gente que se cheire. As greves já duram há mais de um mês, e têm o mérito de pôr em sentido o pobre banqueiro. Que começou por excluir as anteriores excepções da reforma tradicional para as repor na quase integridade no sistema de pensões por pontos e mesmo assim ninguém a aceita. A Suécia tem uma coisa semelhante e eu ouvi numa televisão estrangeira qualquer, uns velhotes queixarem-se que cada ano ficam mais pobres.


         - Green mesmo com o desassossego no corpo (quem não o teve?), não deixa de ser um grande escritor. Vou na página 620, a meio, portanto, do seu Journal Intégral. Vou ter que abrandar para não acabar sem visão.