segunda-feira, janeiro 20, 2020

Segunda, 20.
Ana Gomes é uma personalidade ímpar. Se houvesse cinco mulheres do seu gabarito, o país e o socialismo andariam de mãos dadas no engrandecimento da democracia. Sem papas na língua, enfrentando com liberdade o seu próprio juízo e visão dos acontecimentos, escolhe a verdade em desprimor dos mandamentos partidários.  Chamou ladra à menina Isabel dos Santos que ontem foi notícia em várias televisões mundiais que descascaram os imbróglios de corrupção que a levou a ser a mulher mais rica de África, diga-se de Angola, onde o povo vive na pobreza extrema. A cavalheira milionária, defende-se utilizando a adjectivação própria dos gatunos: “perseguição política”. Sócrates e alguns autarcas há anos que nos sarnam com isto.

         - Normalmente, os leitores dirigem-se-me através do mail apontado nesta página. Desta vez, para minha grande e agradável surpresa, um deles soube não sei como o meu endereço e enviou-me duas palavras por carta que me encheram de contentamento. Eu explico. O jornalista, José do Carmo Francisco, escreveu duas colunas a semana passada no Correio do Ribatejo transcrevendo um texto do Longos Dias, Muitos Encantos (1967-1069), com foto e tudo. Refere-se o generoso articulista, à minha passagem pela cidade de Santarém. Com a Michel, activista como eu de esquerda, ela mais acérrima virando a Faculdade de Letras do avesso. Como é apanágio de um Diário, reproduzo as minhas impressões sobre a cidade, as pessoas, e o texto que agora leio não desmerece em nada, em qualidade e profundidade, destes que volvidos trinta anos aqui deixo todos os dias. Estou grato a José do Carmo Francisco, por me ter recordado momentos que a memória tende a esquecer. O volume vendeu-se bem e hoje só talvez o Simão tenha na sua livraria ainda uns quantos exemplares.


         - Esta manhã momentos simpáticos na Brasileira. Grande conversa em torno da senhorita do Livre que ouvi gritar este fim-de-semana, enfrentando os dirigentes do partido. Ela é a carta fora baralho que eles querem domar, ameaçando escorraçá-la da equipa. Como única deputada eleita para o Parlamento, porta-voz dos interesses partidários, gaga e negra, individualista e de personalidade, penso que não desistirá dos seus interesses e não quererá perder os subsídios que os senhores deputados criaram entre si para todos. Rui Tavares, o grande timoneiro do Livre, conhece agora o velho cliché: a teoria e a prática raramente se encontram.  


         - Ouço o vento a rondar a casa. Na lareira crepita a lenha num diálogo ininterrupto com o silêncio.