Segunda,
20.
Ana
Gomes é uma personalidade ímpar. Se houvesse cinco mulheres do seu gabarito, o
país e o socialismo andariam de mãos dadas no engrandecimento da democracia. Sem
papas na língua, enfrentando com liberdade o seu próprio juízo e visão dos
acontecimentos, escolhe a verdade em desprimor dos mandamentos
partidários. Chamou ladra à menina
Isabel dos Santos que ontem foi notícia em várias televisões mundiais que
descascaram os imbróglios de corrupção que a levou a ser a mulher mais rica de
África, diga-se de Angola, onde o povo vive na pobreza extrema. A cavalheira
milionária, defende-se utilizando a adjectivação própria dos gatunos:
“perseguição política”. Sócrates e alguns autarcas há anos que nos sarnam com
isto.
- Normalmente, os leitores
dirigem-se-me através do mail apontado nesta página. Desta vez, para minha
grande e agradável surpresa, um deles soube não sei como o meu endereço e
enviou-me duas palavras por carta que me encheram de contentamento. Eu explico.
O jornalista, José do Carmo Francisco, escreveu duas colunas a semana passada
no Correio do Ribatejo transcrevendo
um texto do Longos Dias, Muitos Encantos (1967-1069),
com foto e tudo. Refere-se o generoso articulista, à minha passagem pela cidade
de Santarém. Com a Michel, activista como eu de esquerda, ela mais acérrima
virando a Faculdade de Letras do avesso. Como é apanágio de um Diário,
reproduzo as minhas impressões sobre a cidade, as pessoas, e o texto que agora
leio não desmerece em nada, em qualidade e profundidade, destes que volvidos
trinta anos aqui deixo todos os dias. Estou grato a José do Carmo Francisco,
por me ter recordado momentos que a memória tende a esquecer. O volume
vendeu-se bem e hoje só talvez o Simão tenha na sua livraria ainda uns quantos
exemplares.
- Esta manhã momentos simpáticos na
Brasileira. Grande conversa em torno da senhorita do Livre que ouvi gritar este
fim-de-semana, enfrentando os dirigentes do partido. Ela é a carta fora baralho
que eles querem domar, ameaçando escorraçá-la da equipa. Como única deputada
eleita para o Parlamento, porta-voz dos interesses partidários, gaga e negra,
individualista e de personalidade, penso que não desistirá dos seus interesses
e não quererá perder os subsídios que os senhores deputados criaram entre si
para todos. Rui Tavares, o grande timoneiro do Livre, conhece agora o velho cliché:
a teoria e a prática raramente se encontram.
- Ouço o vento a rondar a casa. Na
lareira crepita a lenha num diálogo ininterrupto com o silêncio.