sexta-feira, janeiro 03, 2020

Sexta, 3.
      Ontem, à mesa da Brasileira, grande debate sobre assuntos vários que se iam atropelando sem qualquer regra, como é mérito de toda a franca discussão. A parada esteve alta com o Brito a brilhar. A dada altura falou-se do chinês que eu disse ser uma língua sem estruturas gramaticais, sem declinações e aprendida somente (ou quase) pela oralidade, sem verbos para conjugar. Brito concordou e acrescentou que o chinês é acima de tudo uma língua cantada, com inflexões que exprimem sentidos diferentes se o orador emprega, por exemplo, a vogal A em tom alto ou baixo. Esta simples articulação fonética, é suficiente para alterar completamente o sentido da conversa. E como viveu em Macau muitos anos, deu-nos exemplos hilariantes. Todavia, o tronco linguístico, abraça o Chinês, o Mandarim, o Cantonês e dentro de cada uma destas fontes, ainda existem variedades do chinês. A aristocracia intelectual, fala o chinês clássico, como na Europa culta até ao século XIV se falava o Latim e o Grego. Entre nós, se não estou em erro, foi D. Dinis que fez a primeira tentativa de padronização do português. O fino era falar o grego, pese embora, a hegemonia da Igreja. Mas Brito é de opinião que, sendo o português uma língua cantada, é-nos muito fácil aprender o chinês. Parece que os nossos compatriotas são mestres nesse mister.

                 - Para os que me acusam de pessimismo quando disse que o mundo estava perigoso, aí têm a tradução das minhas apreensões: o ataque ordenado hoje por Trump ao general iraniano Qasem Soleomani, o homem que devia estar à frente dos destinos do Irão, morto no aeroporto da capital pelo Exército dos Estados Unidos. Esta morte estúpida, vai lançar todo o Médio Oriente contra a América e decerto também o Ocidente. Trump é muito pouco inteligente e com este acto aprofundou a estratégia da Rússia e da China que, naturalmente, saem reforçadas à luz da opinião mundial.

              - Mas esta semana desenhou-se ainda outro conflito sinistro: o envio de tropas turcas para a Líbia que Sarkozy e Obama desorganizaram. A ideia de Trípoli é ajudar Fayez al-Sarraj que está em apuros com o avanço do general Khalifa. O que daqui resultará, não só para o número de refugiados em trânsito no país, como  para a região é ainda uma grande incógnita. Até porque Erdogan, o senhor todo poderoso, considera a Líbia como fronteira estratégica, com olho no gás natural do Mediterrâneo Oriental.  Como se vê, o mundo não está nada, absolutamente, nada estável. Os poderosos ditadores sob as frágeis democracias, estão de olho aberto ao imediato.


              - Prossigo Julien Green. Também ele, cada dia, narra a situação bélica que se vai desenhando na Europa e deu origem à chegada de Hitler ao poder. A pouca vergonha com rapazes de ocasião, agora é quase nula. Para acalmar a libido, está o seu “Bobby” (a americana). Que não evitou outro susto – o contagio de herpes. As verrugas no pénis, são queimadas pelo Dr. Rasis. Que vida, hei!