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1 de Janeiro.
Ontem, momentos deliciosos, calmos, elevados a assistir de
Berlim ao concerto de S. Silvestre. A orquestra do teatro tocou números
ligeiros, saborosos, que atravessaram vários continentes musicais: áreas de
óperas, ritmos latinos-americanos, Bernstein, Gershwin... Hoje, como é meu hábito
todos os anos, foi em Viena que passei as primeiras horas deliciado com o
tradicional Concerto de Ano Novo, este ano dirigido pelo maestro Andris Nelsons.
Queira Deus que os próximos 12 meses sejam recheados desta música imortal e de
instantes tão profundos como estes que vivi na paz imensa do campo, da casa dissimulada
pelo denso nevoeiro, onde a lareira acesa muito cedo dava um toque de
serenidade habitada pela memória dos que partiram e dos amigos que preservo.
- Não sei
porque carga d´água, sinto que este ano me vai ser promissor. Tenho pronto para
a viagem dos editores um novo romance, estou banhado da presença de um outro, quiçá
dos mais difíceis de conceber e escrever, e a confiança em mim nunca esteve tão
presente. A aventura da escrita, por si só, enche os meus dias de uma
felicidade nua, inteira, firme, difícil de descrever e que me transporta incólume
para mundos onde entro de olhos fechados, mas na certeza de sair melhor, mais
livre e conhecedor de mim próprio e dos outros.
- O João, o
nosso educador da classe operária, encarregou a mulher para nos restituir um
mínimo de relacionamento. Era custoso para mim resistir ao telefonema desta
queridíssima amiga por quem tenho grande estima. Disse-lhe: “Marília, sabes que
o outro me ofereceu um murro. – Eu sei. Ele oferece a toda a gente, mesmo a
mim. – Oh, pedia logo o divórcio.” Risada. Em fundo ouvia o outro e tudo
terminou em divertimento. Eu acho que um pedido de desculpa é a forma nobre que
o ser humano tem para se dignificar.
- Ouvi o discurso de Chou Chou. A
criatura é a personificação do político moderno que governa com blá-blá. O
nosso Presidente é mais olé olé, o de França mais convencido e a gostar muitíssimo
de se ouvir, chegando ao ponto de compor a estatura de grande estadista. Pena
que seja baixote e o todo fique ridículo.