quarta-feira, janeiro 01, 2020

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1 de Janeiro.
Ontem, momentos deliciosos, calmos, elevados a assistir de Berlim ao concerto de S. Silvestre. A orquestra do teatro tocou números ligeiros, saborosos, que atravessaram vários continentes musicais: áreas de óperas, ritmos latinos-americanos, Bernstein, Gershwin... Hoje, como é meu hábito todos os anos, foi em Viena que passei as primeiras horas deliciado com o tradicional Concerto de Ano Novo, este ano dirigido pelo maestro Andris Nelsons. Queira Deus que os próximos 12 meses sejam recheados desta música imortal e de instantes tão profundos como estes que vivi na paz imensa do campo, da casa dissimulada pelo denso nevoeiro, onde a lareira acesa muito cedo dava um toque de serenidade habitada pela memória dos que partiram e dos amigos que preservo.

         - Não sei porque carga d´água, sinto que este ano me vai ser promissor. Tenho pronto para a viagem dos editores um novo romance, estou banhado da presença de um outro, quiçá dos mais difíceis de conceber e escrever, e a confiança em mim nunca esteve tão presente. A aventura da escrita, por si só, enche os meus dias de uma felicidade nua, inteira, firme, difícil de descrever e que me transporta incólume para mundos onde entro de olhos fechados, mas na certeza de sair melhor, mais livre e conhecedor de mim próprio e dos outros.

         - O João, o nosso educador da classe operária, encarregou a mulher para nos restituir um mínimo de relacionamento. Era custoso para mim resistir ao telefonema desta queridíssima amiga por quem tenho grande estima. Disse-lhe: “Marília, sabes que o outro me ofereceu um murro. – Eu sei. Ele oferece a toda a gente, mesmo a mim. – Oh, pedia logo o divórcio.” Risada. Em fundo ouvia o outro e tudo terminou em divertimento. Eu acho que um pedido de desculpa é a forma nobre que o ser humano tem para se dignificar.


         - Ouvi o discurso de Chou Chou. A criatura é a personificação do político moderno que governa com blá-blá. O nosso Presidente é mais olé olé, o de França mais convencido e a gostar muitíssimo de se ouvir, chegando ao ponto de compor a estatura de grande estadista. Pena que seja baixote e o todo fique ridículo.