quarta-feira, novembro 02, 2016

Quarta, 2.
Em Paris onde me encontro, o clima mudou. Estamos instalados num frio opaco, sem sol, respirando os odores dos automóveis, a atmosfera poluída, a respiração descompassada. Para amanhã prometem-nos 0 graus. Entrei por breves instantes em Notre-Dame ultrapassando as duas filas compactas de visitantes que aguardavam vez para entrar. Por todo o lado, polícias aos pares, à meia-dúzia, à dúzia. A cidade e o país está sob ameaça de morte. Vai fazer um ano que os atentados do Bataclan tiveram lugar. Eu estava cá e pude acompanhar tudo de perto. A televisão recorda-nos a miúde, para fazer deles um acontecimento nacional como qualquer outro. Não há ninguém que não tenha opinião sobre o assunto: políticos, psicólogos, jornalistas, estudantes, professores, passantes anónimos. Estando em Saint-Michel consumi o tempo pelas muitas livrarias e alfarrábios. Como já disse, a busca ou simples passagem do olhar pelos escaparates, são para mim uma actividade fundamental embora esgotante pelas horas de pé, a atenção, a reflexão. Há dois dias, em casa da Anne, falou-se de Palmela onde ela passou momentos felizes a registar num caderno títulos e autores que desejava conhecer. O Lionel, a quem eu aconselhei a leitura do romance de Erika Mann aqui citado, despachou-se a adquiri-lo. Falámos muito um serão sobre uns quantos autores que eu lhe havia recomendado e que são hoje a sua companhia nas horas de banco no hospital ou nas noites de insónia em casa. A este propósito, como ele diz, divertido, que eu sou o seu conselheiro literário, enviei-lhe hoje uma lista de novos escritores e obras de si desconhecidos. Para concluir, se me permitem, escolhi esta epígrafe de Séneca para O Pesadelo dos Dias felizes: Mil peripécias podem produzir-se para nos desmascarar, apesar de nós mesmos; porém, mesmo que estivéssemos sempre de sobreaviso, que concórdia, que segurança, poderia oferecer uma existência que decorre inteiramente atrás de uma máscara?


         - O Papa Francisco, recusou uma vez mais, a ideia de ordenar mulheres, afirmando: Se lermos com cuidado o Santo Papa João Paulo II, é nessa direcção que vai a posição da Igreja. Feministas, aguentem!