Quarta, 2.
Em Paris onde me encontro, o clima mudou.
Estamos instalados num frio opaco, sem sol, respirando os odores dos
automóveis, a atmosfera poluída, a respiração descompassada. Para amanhã prometem-nos
0 graus. Entrei por breves instantes em Notre-Dame ultrapassando as duas filas
compactas de visitantes que aguardavam vez para entrar. Por todo o lado,
polícias aos pares, à meia-dúzia, à dúzia. A cidade e o país está sob ameaça de
morte. Vai fazer um ano que os atentados do Bataclan tiveram lugar. Eu estava
cá e pude acompanhar tudo de perto. A televisão recorda-nos a miúde, para fazer
deles um acontecimento nacional como qualquer outro. Não há ninguém que não
tenha opinião sobre o assunto: políticos, psicólogos, jornalistas, estudantes,
professores, passantes anónimos. Estando em Saint-Michel consumi o tempo pelas
muitas livrarias e alfarrábios. Como já disse, a busca ou simples passagem do
olhar pelos escaparates, são para mim uma actividade fundamental embora
esgotante pelas horas de pé, a atenção, a reflexão. Há dois dias, em casa da
Anne, falou-se de Palmela onde ela passou momentos felizes a registar num
caderno títulos e autores que desejava conhecer. O Lionel, a quem eu aconselhei
a leitura do romance de Erika Mann aqui citado, despachou-se a adquiri-lo.
Falámos muito um serão sobre uns quantos autores que eu lhe havia recomendado e
que são hoje a sua companhia nas horas de banco no hospital ou nas noites de
insónia em casa. A este propósito, como ele diz, divertido, que eu sou o seu
conselheiro literário, enviei-lhe hoje uma lista de novos escritores e obras de
si desconhecidos. Para concluir, se me permitem, escolhi esta epígrafe de
Séneca para O Pesadelo dos Dias felizes:
Mil peripécias podem produzir-se para nos
desmascarar, apesar de nós mesmos; porém, mesmo que estivéssemos sempre de
sobreaviso, que concórdia, que segurança, poderia oferecer uma existência que
decorre inteiramente atrás de uma máscara?
- O Papa Francisco, recusou uma vez mais, a ideia de ordenar mulheres,
afirmando: Se lermos com cuidado o Santo
Papa João Paulo II, é nessa direcção que vai a posição da Igreja. Feministas,
aguentem!