Sexta, 18.
Consideração do dia. O Estado, o Governo,
o Tribunal de Contas, o Presidente da República são insignificantes face ao
gestor e acólitos da Caixa Geral de Depósitos. Ninguém consegue demovê-los dos
cargos ou obrigá-los a cumprir o que está estipulado na lei. Portugal é um país de rendidos.
- Tenho uma talega de livros que trouxe de Paris para arrumar no sítio
dos que aguardam leitura. Como a Piedade na minha ausência procedeu a limpezas
gerais, virou os espaços do avesso. Não me reconheço nesta casa, senão pelo
perfume a cera e a livros que aqui reina e me acolhe com a ternura dos meus
autores escolhidos a dedo: tu entras, tu não.
- Esta manhã fui visitar o Fortuna no seu atelier. Assim que me viu abriu
os braços e exclamou: “Oh, enquanto esteve fora não ouve um único dia que não
tenha pensado em si!” Fica-se sem fôlego. Um homem a quem eu tanto devo, um
artista de pura água, um humanista como hoje há poucos, estimar-me desta
maneira é de deixar uma pessoa fragilizada.
- Só aqui, neste paraíso onde tenho a felicidade de viver, ouço em
profundo recolhimento o cair da chuva, assim como a tranquilidade que dá o
ruído embalador das auroras, o barulhar das folhas nas árvores, o rasto das
cobras, o piar dos pássaros, o canto das osgas. Quando o céu se veste de cinza,
é a hora de tocar a eternidade suspensa do infinito finito de toda a Terra. Deus está muito perto.