segunda-feira, novembro 07, 2016

Segunda, 7.
Quedei-me por largo tempo num bistrot perto de Odéon a ver a chuva cair. Chovia como choveu toda a noite, enquanto em várias partes de França tombaram as primeiras neves. Ontem esteve muito frio e por causa a Annie e o Robert contraíram a gripe com tosse inquietante. O Lionel com quem falei ao telefone, deu um salto de uma semana a Hanói para uma conferência que decerto os seus colegas médicos escutarão com interesse. Levava na bagagem o romance de Erika Mann que eu lhe havia aconselhado. Que mais? Por todo o lado as pessoas perguntam umas às outras em quem vão votar. Da direita à esquerda é um deserto de lodaçal. Ninguém tem confiança nos políticos de hoje. O mundo caminha a passos largos para a chegada de um qualquer salvador messiânico. Em Mossul os ataques da coligação ao Daesh não parecem estar a resultar. Está provado que não são as armas bélicas sofisticadas que ganham as guerras. Nos Estados Unidos instalou-se o pavor e a incerteza devido à possibilidade de Trump vencer as eleições. Se eu escapar da gripe, sou um herói.

         - Ontem, conversando com os meus amigos no salão depois do jantar, Robert começou por assim dizer a disparar. Com o seu smartphone, apanhando-me distraído, fez uma primeira fotografia que a Annie não aprovou, preferindo o meu sorriso que ela diz encher a casa de manhã à noite. Daí o confronto destas duas fotos tal qual me encontro à mon âge. Ou para falar como o Robert: “Voilà le bel homme.” 
  


         - Le monde supérieur est plus proche de nous que nous ne le pensons ordinairement. Ici-bas déjà nous vivons en lui et nous l´apercevons, étroitement mêlé à la trame de la nature terrestre (Novalis).

         - São seis e meia e acabo de entrar em casa. Faz um frio glacial. Diz-me o Robert que nevou nos arredores. Uma chuva branda acompanhou-me desde o metro até aqui. Felizmente a casa está bem aquecida. Estou em Paris a cidade que eu adoro e isso é o essencial.   


         - Termino com uma regolada. Quando ia a sair de um café na Rue Saint-André des Arts, ouvi um estrondo atrás de mim. Voltei-me e vi um rapaz que prontamente me diz: “Ça arrive!” E eu: “Ça arrive a tout le monde y compris François Hollande!” Risada geral.