quinta-feira, novembro 24, 2016


Quinta, 24.
Segundo o Mágico, os portugueses não podem estar mais felizes: tudo ou quase o que o anterior executivo lhes retirou, o Mágico repôs. Contudo, a dívida pública aumentou e está em 123 por cento do PIB - o número que José Sócrates nos deixou antes de chamar a troika.

         - O Governo turco quer obrigar a rapariga violada a casar com o violador. A pobre é duplamente castigada.

         - Ontem, no escritório do Simão na Rua da Conceição, conversa solta sobre a publicação de O Rés-do-Chão de Madame Juju. Quando o assunto é abordado, ele tenta resfriar-me de modo a não aceitar ser editado por uma grande editora que me enviou quatro contratos e ele julga inadequada culturalmente. A dada altura, falando deste trabalho quotidiano, ele sugeriu-me que fizesse uma selecção para publicação, esquecendo-se que este exercício de escrita é objecto a nascente de um Diário cujos primeiros três volumes foram já dados à estampa.


         - Sábado passado perdi-me completamente no Lumiar ao procurar o Mosteiro de Santa Maria. Felizmente não havia trânsito nenhum e pude andar às voltas uma hora perguntando a quem encontrava pela morada das irmãs dominicanas. Devo ter abordado mais de cinquenta pessoas e ninguém, todos residentes na zona, sabia da existência do convento. Quando estava para regressar a casa, encontro um homem simples que sacou do smartphone e localizou “mais ou menos” a rua. Para lá me dirigi não sem apreensão porque ao chegar dei de caras com um instituto de portões fechados. Torno a descer a avenida principal e hesitante decido voltar a subi-la contornando um muro em cotovelo que se situava nas traseiras do tal instituto, subo uma rampa e avisto uma edificação bem cuidada, discreta, disfarçada na paisagem verdejante. Na mesma altura, já dentro do portão, pára um táxi. Vou perguntar ao motorista se sabe onde fica a morada que procuro. Ele responde-me que não, mas a senhora que havia transportado, retorquiu-me do fundo do banco de trás, que estou no sítio certo e pergunta-me se sou amigo de Maria Estela Guedes porque também ela vem participar no programa cultural orientado pela nossa ilustre amiga. Ufa! Isto porque o lumiar para mim era a Tobis, os estúdios da televisão, o hospital Pulido Valente e a empresa dos Amados, o andar onde o Ângelo Sajara morava e Jorge Sampaio. Para lá destes meus contactos, ficava o mato, as casas mais ou menos, os espaços do perigo, o corredor que fugia à cidade e mergulhava na sombria pobreza. Dito isto o progresso é medonho. Não sei se para bem se para mal. O que sei é que as quatro irmãs que habitam no presbitério, estão em êxtase no campo porque ali não chega ruído algum, o jardim é uma beleza de cuido, as árvores fecham em comunhão orações e cânticos do divinum officium