Quinta, 24.
Segundo o Mágico, os portugueses não
podem estar mais felizes: tudo ou quase o que o anterior executivo lhes
retirou, o Mágico repôs. Contudo, a dívida pública aumentou e está em 123 por
cento do PIB - o número que José Sócrates nos deixou antes de chamar a troika.
- O Governo turco quer obrigar a rapariga violada a casar com o
violador. A pobre é duplamente castigada.
- Ontem, no escritório do Simão na Rua da Conceição, conversa solta
sobre a publicação de O Rés-do-Chão de
Madame Juju. Quando o assunto é abordado, ele tenta resfriar-me de modo a
não aceitar ser editado por uma grande editora que me enviou quatro contratos e
ele julga inadequada culturalmente. A dada altura, falando deste trabalho quotidiano,
ele sugeriu-me que fizesse uma selecção para publicação, esquecendo-se que este
exercício de escrita é objecto a nascente de um Diário cujos primeiros três volumes
foram já dados à estampa.
- Sábado passado perdi-me completamente no Lumiar ao procurar
o Mosteiro de Santa Maria. Felizmente não havia trânsito nenhum e pude andar às
voltas uma hora perguntando a quem encontrava pela morada das irmãs dominicanas.
Devo ter abordado mais de cinquenta pessoas e ninguém, todos residentes na
zona, sabia da existência do convento. Quando estava para regressar a casa,
encontro um homem simples que sacou do smartphone e localizou “mais ou menos” a
rua. Para lá me dirigi não sem apreensão porque ao chegar dei de caras com um
instituto de portões fechados. Torno a descer a avenida principal e hesitante
decido voltar a subi-la contornando um muro em cotovelo que se situava nas
traseiras do tal instituto, subo uma rampa e avisto uma edificação bem cuidada,
discreta, disfarçada na paisagem verdejante. Na mesma altura, já dentro do
portão, pára um táxi. Vou perguntar ao motorista se sabe onde fica a morada que
procuro. Ele responde-me que não, mas a senhora que havia transportado, retorquiu-me
do fundo do banco de trás, que estou no sítio certo e pergunta-me se sou amigo de
Maria Estela Guedes porque também ela vem participar no programa cultural
orientado pela nossa ilustre amiga. Ufa! Isto porque o lumiar para mim era a
Tobis, os estúdios da televisão, o hospital Pulido Valente e a empresa dos
Amados, o andar onde o Ângelo Sajara morava e Jorge Sampaio. Para lá destes
meus contactos, ficava o mato, as casas mais ou menos, os espaços do perigo, o
corredor que fugia à cidade e mergulhava na sombria pobreza. Dito isto o
progresso é medonho. Não sei se para bem se para mal. O que sei é que as quatro
irmãs que habitam no presbitério, estão em êxtase no campo porque ali não chega
ruído algum, o jardim é uma beleza de cuido, as árvores fecham em comunhão
orações e cânticos do divinum officium.