segunda-feira, novembro 14, 2016

Segunda, 14
Três horas e meia foi quanto precisámos, Robert e eu, para conhecer a colecção Chtchoukine que a Fundação Louis Vuitton oferece aos amantes de arte. Trata-se do maior evento cultural na área da pintura existente nesta altura em Paris. Um verdadeiro acontecimento porque é a primeira vez que o património adquirido pelo empresário russo do têxtil sai do seu país, mediante autorização expressa de Putin, dado que Estaline o fez tresmalhar por aqui e por acolá, de forma a torná-lo menos relevante. O museu fica paredes-meias com o Jardin d´Aclimatation mandado construir por Napoleão III e é ainda hoje uma referência para os franceses. As filas à entrada atingem três horas, mas nós fomos cedo embora eu entre sem ter que passar por aquele tormento. Lá dentro é o deslumbre! Nada do que o amante de arte russo adquiriu é de somenos importância. Os cinco andares são inteiramente ocupados por uma parte da sua excepcional colecção, nada mais nada menos, de que 275 obras: 50 Picasso, 41 Matisse, 11 Cézanne, 6 Gaugin, 15 Derain, 13 Monet, 3 Degas, 4 Van Gogh entre outros como Rousseau, Renoir, Manet, Toulouse-Lautrec. Algumas das obras que os nossos olhos admiraram, já eu as conhecia de fotografias. Por isso, o ter pousado o olhar nos originais foi para mim momentos tocados pela magia do instante atravessado da beleza que eterniza a exaltação. De sala em sala, de andar em andar, somos arrastados pelo gosto de um homem pequeno, vegetariano, asceta e conversador, que cedo percebeu que a Paris do início do século XX era o farol que iria orientar todo um século e ficar focado ainda por muito tempo numa geração impressionante de artistas tão originais que paralisaram a arte fazendo até aos nossos dias uma quantidade de enteados que nada acrescentam à arte contemporânea. Lá encontramos o célebre Déjeuner sur l´herbe, os Picasso do período azul, Gaugin com a série de Aha oé feii.






Gertrude Stein com a sua companheira de uma vida, que esteve na origem desta plêiade de artistas

O edifício não precisa de assinatura para reconhecermos ser obra de Frank Gehry. Visto de longe parece uma borboleta acamada, de perto um navio iluminado pela luz da cidade que tem nela o seu ex-libris. É uma estrutura muito complexa do ponto de vista arquitectónico, difícil e onerosa de manter, com planos justapostos onde se disseminam jardins suspensos com vista imponente sobre Paris. Inaugurado há dois anos, é já um ponto de referência acrescido numa capital que tem na arte uma das suas fontes de riqueza. É a segunda obra do arquitecto canadiano que visitei. A primeira foi o museu Guggenheim de Bilbau que, embora mais pequeno, deixou-me suspenso de assombro. Esta tem ainda a vantagem de estar integrada no jardim construído por Napoleão III e, por isso, fazer parte de uma zona chique enriquecida de história. Foi lá que, exaustos, nos quedámos pelas três da tarde para um almoço saboroso e calmo, rodeado da agitação dos pássaros e de verdura. Embora a multidão seja muita, a triagem à entrada permite fruirmos das obras em total harmonia. As salas são vastas, luminosas, sem aqueles arrebiques de gosto que inspiram os curadores dos tempos modernos e são desastrosos para os visitantes. Quero, contudo, agradecer às mulheres que me permitem usufruir disto tudo. São elas que enriqueceram o senhor Vitton adquirindo os seus artigos a preços proibitivos para a maior das pessoas.   

Museu Louis Vitton - entrada sem ter em conta a personagem à esquerda 

A complexidade arquitectónica 

Os terraços suspensos 

A borboleta acamada 

A personagem tendo em fundo a Defense