terça-feira, abril 26, 2016

Terça, 26.
Ontem, enquanto Brezhnev cortava os troncos dos arbustos em volta da quinta, eu, chapéu de palha na cabeça, protectores auriculares, luvas e roçadora, atacava o mato que cobriu completamente o jardim. Pelo meio-dia intervalei para fazer o almoço para ambos. Sempre que ele cá vem, tenho gosto em o sentar à mesa comigo na cozinha e por uma hora servi-lo, ouvir as suas histórias contadas num português arranhado e acompanhado do seu constante largo sorriso. Disse-lhe que parecia um actor de cinema austríaco e não um russo das terras e mares do capitalismo soviético. Riu-se por uma hora e ao correr da tarde, logo que me via por perto, tornava: “Eu sou actor austrico!” O dia neste remansoso rumor de máquinas, riso, conversa vadia, acabou por ser uma bênção descida do céu mais o sol, enfim, derramado no campo. Pena que com tantos afazeres, não pudesse aceitar o convite do Simão para um almoço em Costa de Caparica.  


         - Embarquei no barco do Barreiro às 8,30. Um quarto de hora depois chegava à Praça do Comércio para subir a penates até à Brasileira onde me aguardavam os meus amigos e dali fui ao encontro do Carlos, ao Campo Pequeno, para um almoço frugal no seu agradável B & B, preparado pela empregada nepalesa e servido no jardim das traseiras. Segui depois para o dentista onde me esperava um tormento de mais de uma hora. Primeiro com um médico que me retirou o nervo de um dente e logo a seguir uma médica que me limpou em profundidade e com anestesia o tártaro encrustado nas gengivas. No final, não me tendo sacado nenhum dente, extraíram-me mais 220 euros e vim para casa com o queixal inferior idêntico ao da Angelina Jolie, mas morto e incapaz para beijocas apaixonadas. Bom. Felicíssima notte caro Helder de Sousa que bem mereces e para os leitores que não se riram e até sofreram com o meu desgraçado dia.