Domingo, 24.
O ex-ministro do PSD e empresário
próspero, Ângelo Correia, também está entre os políticos que chafurdam na merda
panamiana. Surpreendidos? Eu nem um pouco. Basta acompanhar a trajetória
política do cavalheiro, ouvir a ladainha melodiosa que contradiz o seu carácter,
observar o caminho através da floresta de enganos que são os seus pares, para
perceber a natureza do sujeito.
- Há medida que avanço na biografia de George Sand escrita por André
Maurois, mais sinto como uma necessidade urgente, ler Histoire de ma Vie contada pela própria.
- Ontem, ao descer do meu quarto, peguei ao azar num dos volumes do
Diário de Julien Green, no caso Ce qui
reste de jour. Sentado no salão, folheei-o relendo as páginas sublinhadas,
recordando as tardes de leitura no meu apartamento de S. Marçal, a janela da
varanda aberta, a presença da Isabel refastelada no sofá alemão. Li-lhe após o
jantar esta passagem: “Que celui que veut
être mon disciple prenne sa croix et me suivre.” Combien veulent-ils de la croix,
cette croix impossible à éliminer pour qui veut être le disciple du Christ?
Ai-je la mienne? Il m´est arrivé de me demander. La chasteté, la terrible
renonciation, cette croix, je ne la porte pas vaillamment, je la traîne et souhaiterais parfois qu´il me fût permis
de la laisser là, un jour, ou une heure. Il y a des années que je voulais dire
cela. Isabel, tocada com o que acabou de ouvir: “Oh, como é possível!” Green
ia nos sessenta e nove anos! Viveu até aos 98. Imagine-se a pesada cruz que
teve de carregar! A Igreja Católica tem feito muito mal aos fiéis e
enquanto não resolver ela própria os seus problemas relativamente à sexualidade, os
cristãos terão de se voltar directamente para Deus, porque Ele que nos criou,
fez-nos tal qual somos, um a um, com as nossas particularidades e condição - e portanto livres para sermos como somos.