terça-feira, abril 19, 2016

Terça, 19.
O artigo de Nuno Costa Santos na LER sobre Jorge Listopad, revela-nos um homem e um escritor tal qual eu o imagino ainda que não o conheça pessoalmente. Ou antes cruzei-me com ele na RTP e li coisas muito simpáticas que escreveu acerca dos meus livros. Ele era grande amigo de Vergílio Ferreira e ambos por assim dizer protegeram-me com pequenas prosas que a minha natureza selvagem nunca ousou agradecer. Nuno Santos desce fundo e na perfeição no discernimento de uma obra que parece ligeira, mas vai fundo na definição de valores existenciais do equilíbrio do homem e da sua essência. Grande e original poeta, Listopad, como todos as personalidades de valor, não oferece a cara ao artifício da vagabundagem pública que tem no espectáculo a perenidade. Leio que Diogo Madre Deus (o articulista escreve Diogo Madredeus, mas o notável e discreto editor da Cavalo de Ferro, nos e-mails que me enviou assina Madre Deus) é o editor do poeta e escritor, e vai editar proximamente o primeiro romance do nonagenário jeune homme. Que Deus dê longa e profícua vida aos dois!

         - Provavelmente para a maioria dos portugueses que são mais dados ao alheamento ante as injustiças e baldas que crescem por todo o lado, eu não me calo. Tanto agradeço e elogio como com a mesma intensidade me revolto e acuso. Recentemente respondi a uma carta da empresa de transportes de Lisboa nestes termos:

Resposta à carta de 6 do corrente, refª 016  1181350


Carta assinada pelo senhor Fausto Figueiredo, não sei se por ele escrita, fez-me pensar ser antes uma missiva de cassete, quero dizer de carregar na tecla, porque me levantou alguma apreensão.

1 – Ela não responde a nada do que salientei no « Livro de Reclamações », antes limita-se a dizer que não há pessoal para atender tantos utentes. Isso todos nós sabemos, embora no país exista 14 por cento de desempregados.

2 – Os parágrafos 4, 5 e 6 não vêm a propósito de coisa nenhuma, mas põem em evidência uma falha dos Transportes de Lisboa ao reconhecer que as máquinas de distribuição de bilhetes não emitem títulos para os « coitadinhos » dos idosos.

Adianto que eu apenas me insurgi contra o facto de haver só um guichet em funcionamento, quando havia imensa gente em uma fila, desesperada. Pessoas que depois tiveram que esperar meia hora pelo próximo transporte, à chuva, ao vento, abandonadas num cais que foi construído sem nenhuma espécie de respeito pelos utentes ou no pressuposto que somos um país quente e cheio de sol como é hábito ouvirmos dizer aos senhores empresários e gestores… Recordo-lhe que é nos países ditos de sol que as populações rapam um frio de morte.

Com indignação.


         - Lassidão. Imobilismo. Indiferença. Apatia. Assim estive toda a manhã tendo-me levantado pelas sete horas com grande interesse na realização de vários projectos. Para sacudir a peçonha, ao meio-dia, fui fazer meia hora de natação. Há dias assim que parece que trazem agarrados toda a languidez mórbida que sacode a vida do corpo.