Terça, 19.
O artigo de Nuno Costa Santos na LER sobre Jorge Listopad, revela-nos um
homem e um escritor tal qual eu o imagino ainda que não o conheça pessoalmente.
Ou antes cruzei-me com ele na RTP e li coisas muito simpáticas que escreveu
acerca dos meus livros. Ele era grande amigo de Vergílio Ferreira e ambos por
assim dizer protegeram-me com pequenas prosas que a minha natureza selvagem
nunca ousou agradecer. Nuno Santos desce fundo e na perfeição no discernimento
de uma obra que parece ligeira, mas vai fundo na definição de valores
existenciais do equilíbrio do homem e da sua essência. Grande e original poeta,
Listopad, como todos as personalidades de valor, não oferece a cara ao artifício
da vagabundagem pública que tem no espectáculo a perenidade. Leio que Diogo
Madre Deus (o articulista escreve Diogo Madredeus, mas o notável e discreto editor
da Cavalo de Ferro, nos e-mails que me enviou assina Madre Deus) é o editor do
poeta e escritor, e vai editar proximamente o primeiro romance do nonagenário jeune homme. Que Deus dê longa e
profícua vida aos dois!
- Provavelmente para a maioria dos portugueses que são mais dados ao
alheamento ante as injustiças e baldas que crescem por todo o lado, eu não me
calo. Tanto agradeço e elogio como com a mesma intensidade me revolto e acuso.
Recentemente respondi a uma carta da empresa de transportes de Lisboa nestes
termos:
Resposta
à carta de 6 do corrente, refª 016
1181350
Carta
assinada pelo senhor Fausto Figueiredo, não sei se por ele escrita, fez-me
pensar ser antes uma missiva de cassete, quero dizer de carregar na tecla,
porque me levantou alguma apreensão.
1
– Ela não responde a nada do que salientei no « Livro de
Reclamações », antes limita-se a dizer que não há pessoal para atender
tantos utentes. Isso todos nós sabemos, embora no país exista 14 por cento de
desempregados.
2
– Os parágrafos 4, 5 e 6 não vêm a propósito de coisa nenhuma, mas põem em
evidência uma falha dos Transportes de Lisboa ao reconhecer que as máquinas de
distribuição de bilhetes não emitem títulos para os « coitadinhos »
dos idosos.
Adianto
que eu apenas me insurgi contra o facto de haver só um guichet em
funcionamento, quando havia imensa gente em uma fila, desesperada. Pessoas que
depois tiveram que esperar meia hora pelo próximo transporte, à chuva, ao
vento, abandonadas num cais que foi construído sem nenhuma espécie de respeito
pelos utentes ou no pressuposto que somos um país quente e cheio de sol como é
hábito ouvirmos dizer aos senhores empresários e gestores… Recordo-lhe que é
nos países ditos de sol que as populações rapam um frio de morte.
Com
indignação.
- Lassidão. Imobilismo. Indiferença. Apatia. Assim estive toda a manhã
tendo-me levantado pelas sete horas com grande interesse na realização de
vários projectos. Para sacudir a peçonha, ao meio-dia, fui fazer meia hora de
natação. Há dias assim que parece que trazem agarrados toda a languidez mórbida
que sacode a vida do corpo.