Sexta, 8.
Queriam-no cá, aí o têm. Mario Draghi veio passar
literalmente um raspanete a António Costa e deixar elogios ao antigo
primeiro-ministro Passos Coelho, ao mesmo tempo que denunciava a existência do Plano
B falado em Bruxelas e que o actual chefe do executivo sempre negou existir. Depois
apanhou o avião de regresso ao seu casulo. Tudo limpo e directo.
- Cameron nunca me enganou. Eu sou dos que acho que em grande número o
hábito faz o monge. Depois de ter negado possuir acções em “empresas” da
Mossack Fonseca do Panamá, apertado, veio dizer que afinal sempre as tinha e
que havia até ganho um naco de juros prontamente investidos. A hipocrisia do
sujeito é tal que ainda há pouco tempo era arauto da evasão fiscal e da falta
de transparência dos paraísos fiscais. Aqui está mais uma razão para em Junho
os britânicos votarem “não” à permanência na UE.
- Quero pedir desculpa aos leitores por ter achado que o nosso petit pays estava, enfim, liberto de
toda a candonga e influências e traficâncias ligadas à actividade criminosa. Foi
preciso o grande Aquiles ter deixado as páginas da Ilíade onde combateu Heitor, para integrar a operação que teve o seu
nome, me dar conta que, afinal, continuamos a descobrir nos fundos da nossa
triste condição o anátema que caracteriza o tecido social e político. De uma
leva, foram apanhados na malha da corrupção e do tráfico de droga, nada mais
nada menos que 15 elementos, nomeadamente, dois chefes da PJ, um cabo da GNR,
dois advogados que defendiam os arguidos. O juiz Carlos Alexandre (sempre ele),
madrugou, para ouvir esta plêiade de gente ilustre e honesta que durante anos
esteve às ordens dos cartéis do narcotráfico ganhando fortunas em vez do Estado
português. O arsenal que foi encontrado para as suas acções, é impressionante:
220 equipamentos electrónicos, 25 viaturas, sete armas de fogo, 100 mil euros.
- Eu não percebo o motivo que levou Angola a pedir ajuda ao FMI. Melhor
fora e talvez mais em conta, implorarem à menina Isabel dos Santos. A senhorita
viaja sempre com sacos carregados de milhões. Não há nada que a filha do patrão
não compre: pessoas, instituições, castelos, bancos, jazidas de petróleo, etc.
etc. etc. etc.
- Tenho pena que João Soares tenha perdido a cabeça e oferecido
“bofetadas” aos dois articulistas do Público: Vasco Pulido Valente e Augusto M.
Seabra. É uma deselegância imperdoável. Não falo do ponto de vista do cargo que
ocupa no actual Governo, mas do domínio dos princípios, da essência da boa
educação e do convívio democrático. Eu sempre me dei bem com ele, apreciei o
seu trabalho na autarquia de Lisboa, a sua independência face ao pai e,
francamente, acho estranho uma tal reacção, não confere com a personalidade
pacifica que lhe conheço.
- Esta tarde, na balbúrdia da esplanada do rés-do-chão do Corte Inglês, aquela
senhora distinta que parecia suspensa de um vácuo de vazio, remetida para um
mundo que decerto nem ela conhecia, sacudido da imensa solidão que o seu rosto
bonito irradiava.