quarta-feira, abril 13, 2016

Quarta, 13.
Comecei a ler a vida de George Sand por André Maurois. Alain que fora seu professor de filosofia, tinha muito respeito pour cette grande femme qu´était un três grand homme. Conheço o suficiente para lhe dar razão, mas o que me interessa nesta dama apaixonada e apaixonante, é conhecê-la através do olhar do católico Maurois. Fervo de excitação por devorar as quase 600 páginas que me esperam. (A propósito: Couto dizia-me anteontem que já ninguém suporta ler mais de 300 páginas, referindo-se às 500 e tal de O Rés-do-Chão de Madame Juju. Se ele soubesse quantos milhares já eu li só este ano e 2016 ainda vai no adro!... Por outro lado, não me consta que Rowling com Harry Porter houvesse escrito volumes com 300 páginas cada!)

         - A revista LER é um magnífico trabalho de Francisco José Viegas. O número deste mês é uma beleza e o seu conteúdo diversificado e interessante. Viegas vê-se que ama a literatura, os autores e nesse amor arrasta os leitores. A grande entrevista é de Clara Ferreira Alves, a dama do Expresso, agora romancista cabisbaixa de fadiga devido à construção do seu primeiro romance Pai Nosso.  Não sei o que vale a obra porque não a li, ocupado como ando com os clássicos. Todavia, o conteúdo das respostas às perguntas que o entrevistador lhe faz de um modo confidencial e por assim dizer devoto é, como direi, enfatuado. Observamos, contudo, naquele mundo que eu atravessei e conheço a maior parte das personagens, ambientes e situações, um laivo histórico que a meu ver a autora devia passar a livro. Se o meu leitor conseguir pôr de parte a irritante pose montada da jornalista, as afirmações construídas para armar ao pingarelho intelectual, poderá dar-me razão que temos ali a sinopse para um extraordinário livro de memórias a exemplo daquele outro que o seu vizinho Jorge Silva Melo nos ofereceu em Século Passado. Dito isto, a senhora até é divertida, solta, saborosa. Mas por favor, desvie os olhos da foto da capa e da do interior – são um susto de altivez e pose estudada. Eu não a conhecia assim, tendo vivido mesmo em frente do prédio onde ela continua a habitar e tendo-me cruzado inúmeras vezes profissionalmente com ela. Que diabo, um romance, afinal, não passa de um romance...

         - Aqui na quinta, não obstante o mau tempo, o trabalho não abranda. Brezhnev torna tudo mais fácil com o seu permanente sorriso aberto no rosto cheio. Dizia-me ele ontem que nascera russo, depois ucraniano por uns anos, e agora ordenaram-lhe que voltasse a ser russo até à morte. Ele conta o seu destino que é o de milhões de seres humanos submetidos à tirania do seu homónimo, com muito humor.


         - Sou muito atraído como os gregos foram pelo Cosmos. Outro dia estive a ler um ensaio sobre os aclamados “buracos negros”, estrelas de neutrões e a teoria do crescimento do Universo que, segundo os cientistas, “cresceu de uma forma inflacionária” após o Big Bang, há 13.800 milhões de anos... A gente lê estas coisas, estremece, e passa adiante. É de tal modo uma utopia à escala individual, que nos recolhemos em lucubrações que têm tanto de sobrenaturais como de fantasiosas. Mas a pergunta fundamental permanece: quem esteve no início dos inícios, quando nada havia além da escuridão dos mundos e dos abismos sem massa gravitacional? Para alguns nada, para outros como eu, Deus o Criador das coisas visíveis e invisíveis - o Universo, isto é, o Céu e a Terra.