Quarta, 13.
Comecei a ler a vida de George Sand por
André Maurois. Alain que fora seu professor de filosofia, tinha muito respeito pour cette grande femme qu´était un três
grand homme. Conheço o suficiente para lhe dar razão, mas o que me
interessa nesta dama apaixonada e apaixonante, é conhecê-la através do olhar do
católico Maurois. Fervo de excitação por devorar as quase 600 páginas que me
esperam. (A propósito: Couto dizia-me anteontem que já ninguém suporta ler mais
de 300 páginas, referindo-se às 500 e tal de O Rés-do-Chão de Madame Juju. Se ele soubesse quantos milhares já
eu li só este ano e 2016 ainda vai no adro!... Por outro lado, não me consta
que Rowling com Harry Porter houvesse escrito volumes com 300 páginas cada!)
- A revista LER é um magnífico
trabalho de Francisco José Viegas. O número deste mês é uma beleza e o seu
conteúdo diversificado e interessante. Viegas vê-se que ama a literatura, os
autores e nesse amor arrasta os leitores. A grande entrevista é de Clara
Ferreira Alves, a dama do Expresso, agora romancista cabisbaixa de fadiga
devido à construção do seu primeiro romance Pai
Nosso. Não sei o que vale a obra
porque não a li, ocupado como ando com os clássicos. Todavia, o conteúdo das
respostas às perguntas que o entrevistador lhe faz de um modo confidencial e
por assim dizer devoto é, como direi, enfatuado. Observamos, contudo, naquele
mundo que eu atravessei e conheço a maior parte das personagens, ambientes e
situações, um laivo histórico que a meu ver a autora devia passar a livro. Se o
meu leitor conseguir pôr de parte a irritante pose montada da jornalista, as
afirmações construídas para armar ao pingarelho intelectual, poderá dar-me
razão que temos ali a sinopse para um extraordinário livro de memórias a
exemplo daquele outro que o seu vizinho Jorge Silva Melo nos ofereceu em Século Passado. Dito isto, a senhora até
é divertida, solta, saborosa. Mas por favor, desvie os olhos da foto da capa e
da do interior – são um susto de altivez e pose estudada. Eu não a conhecia
assim, tendo vivido mesmo em frente do prédio onde ela continua a habitar e
tendo-me cruzado inúmeras vezes profissionalmente com ela. Que diabo, um
romance, afinal, não passa de um romance...
- Aqui na quinta, não obstante o mau tempo, o trabalho não abranda.
Brezhnev torna tudo mais fácil com o seu permanente sorriso aberto no rosto
cheio. Dizia-me ele ontem que nascera russo, depois ucraniano por uns anos, e
agora ordenaram-lhe que voltasse a ser russo até à morte. Ele conta o seu destino
que é o de milhões de seres humanos submetidos à tirania do seu homónimo, com
muito humor.
- Sou muito atraído como os gregos foram pelo Cosmos. Outro dia estive a
ler um ensaio sobre os aclamados “buracos negros”, estrelas de neutrões e a
teoria do crescimento do Universo que, segundo os cientistas, “cresceu de uma
forma inflacionária” após o Big Bang, há 13.800 milhões de anos... A gente lê
estas coisas, estremece, e passa adiante. É de tal modo uma utopia à escala
individual, que nos recolhemos em lucubrações que têm tanto de sobrenaturais
como de fantasiosas. Mas a pergunta fundamental permanece: quem esteve no
início dos inícios, quando nada havia além da escuridão dos mundos e dos
abismos sem massa gravitacional? Para alguns nada, para outros como eu, Deus o
Criador das coisas visíveis e invisíveis - o Universo, isto é, o Céu e a Terra.