terça-feira, novembro 17, 2015

Terça, 17.
Não há pachorra! Ou antes eu não tenho. O espectáculo do sofrimento aproveitado por todas as televisões banalizando o que é sincero e o que não é, amalgamando numa ideia colectiva aquilo que é íntimo e deve permanecer, como se todos nós tivéssemos sido convocados por jornalistas medianos e oportunistas, a entrar num festival digno de ser partilhado por todos. Como em toda a propaganda os slogans abundam, todos insuportáveis de idiotice: Je suis Paris, Je suis Charlie, Nous sommes Paris. Toda a gente tem uma palavra a dizer e se o disser com a lágrima no olho, então o jornalista de imagem tudo faz para que o plano encha a sala onde o espectador escuta soltando o choro num pranto de revolta que comoverá decerto os assassinos que lá longe, servindo-se das armas reais e, sobretudo, das virtuais que manobram como ninguém, aos mortos se juntam. Miserável conjuntura que tudo e todos arregimenta.

         - O tempo não ajuda à cura da depressão colectiva – moche, moche. Os políticos exibem lágrimas de crocodilo e condolências hipócritas. Subjacente, espreitando a oportunidade, está a máquina partidária que aproveitará a fragilidade dos espíritos sensíveis. O povo francês parece hipnotizado, sem voz crítica que reclame responsabilidade aos que o governam. Marine Le Pen já lançou as garras e de tal forma o fez que os franceses a compreenderam. Seguiu-se Sarkosy, indirecto. As próximas eleições estão na mira de todos. O momento nunca foi tão propício ao assalto do poder. Hollande está fora de combate.


         - Não suporto já o patuá das rádios e televisões sobre os atentados. São dias, horas e horas a debitar pareceres, conjecturas, a omitir opiniões desta e daquele, politólogos, jornalistas especializados nisto e naquilo, psicólogos, anónimos que estiveram nos locais do crime ou simples passantes, todos têm uma opinião, um minuto de glória a deixar, como se aos jihadistas interessasse tanto parecer e informação sobre eles e os seus métodos assassinos e com tanto conhecimento se pudesse evitar novos atentados. Ainda por cima, não estando em minha casa, não sou senhor de mim. Não posso desligar a televisão, premir o botão do rádio, alhear-me destas cabeças esclarecedoras que atulham de erudição. J´en ai marre de tout ça!.