Terça,
17.
Não
há pachorra! Ou antes eu não tenho. O espectáculo do sofrimento aproveitado por
todas as televisões banalizando o que é sincero e o que não é, amalgamando numa
ideia colectiva aquilo que é íntimo e deve permanecer, como se todos nós
tivéssemos sido convocados por jornalistas medianos e oportunistas, a entrar
num festival digno de ser partilhado por todos. Como em toda a propaganda os
slogans abundam, todos insuportáveis de idiotice: Je suis Paris, Je suis
Charlie, Nous sommes Paris. Toda a gente tem uma palavra a dizer e se o
disser com a lágrima no olho, então o jornalista de imagem tudo faz para que o
plano encha a sala onde o espectador escuta soltando o choro num pranto de revolta
que comoverá decerto os assassinos que lá longe, servindo-se das armas reais e,
sobretudo, das virtuais que manobram como ninguém, aos mortos se juntam. Miserável
conjuntura que tudo e todos arregimenta.
- O tempo não ajuda à cura da depressão
colectiva – moche, moche. Os
políticos exibem lágrimas de crocodilo e condolências hipócritas. Subjacente,
espreitando a oportunidade, está a máquina partidária que aproveitará a
fragilidade dos espíritos sensíveis. O povo francês parece hipnotizado, sem voz
crítica que reclame responsabilidade aos que o governam. Marine Le Pen já
lançou as garras e de tal forma o fez que os franceses a compreenderam.
Seguiu-se Sarkosy, indirecto. As próximas eleições estão na mira de todos. O
momento nunca foi
tão propício ao assalto do poder. Hollande está fora de combate.
- Não suporto já o patuá das rádios e
televisões sobre os atentados. São dias, horas e horas a debitar pareceres,
conjecturas, a omitir opiniões desta e daquele, politólogos, jornalistas
especializados nisto e naquilo, psicólogos, anónimos que estiveram nos locais
do crime ou simples passantes, todos têm uma opinião, um minuto de glória a
deixar, como se aos jihadistas interessasse tanto parecer e informação sobre
eles e os seus métodos assassinos e com tanto conhecimento se pudesse evitar
novos atentados. Ainda por cima, não estando em minha casa, não sou senhor de
mim. Não posso desligar a televisão, premir o botão do rádio, alhear-me destas
cabeças esclarecedoras que atulham de erudição. J´en ai marre de tout ça!.