sexta-feira, novembro 13, 2015

Sexta, 13.
Eu diria que o sistema francês é concentracionário. O cidadão está controlado de todos os modos e a administração pública é uma máquina que em vez de estar ao seu serviço, são os cidadãos que a veneram com respeito e medo. O Código de Trabalho é um tijolo que assusta (o mesmo código, suíço, possui apenas cem páginas), o mais insignificante documento é visto e revisto mil vezes, como se o cidadão fosse um criminoso que não devesse andar à solta, câmaras de vigilância estão por todo o lado, o Estado não confia em ninguém. Esta manhã acompanhei o Robert à Câmara para renovação do passaporte. Um pesadelo. Nada está informatizado, confiscam o passaporte anterior, para o novo são precisas duas fotografias, a identidade e nascimento dos pais, prova (factura da electricidade) de residência, e duas horas de espera para ser atendido. Em muitos e generosos aspectos, nós estamos muito mais avançados e o sistema estatal em Portugal não exerce tanta fiscalização como em França. Por outro lado, quer-me parecer que estamos também melhor equipados com sistemas modernos, computorização, facilitação documental e assim.

         - Terminei a leitura de um saboroso livro de Camus: Journaux de voyage. Curiosas e precisas impressões sobre o Brasil, Montevideo, Estados Unidos, em 1946 e 1949. Um apontamento: L´avion va vite, et moins la France, l´Espagne, l´Italie ont d´importance. Elles étaient nations, les voilà provinces, et demain, villages du monde.

         - Estou um bucha. Tenho três centímetros a mais de barriga. Tudo o que como de refinado, saboroso e metonner, contribui para o meu desastre. Em um mês arranjei trabalho para dois a três chegado a casa: muita natação, alimentação restrita, escolha criteriosa do que levo à boca.


         - Tempo moche. Não faz propriamente frio, mas um desconsolo cai do céu na forma de um surdo e interminável lamento. Tudo aqui parece abafado, sem timbre, sem expressão. Aonde a um português falta o sol, é a própria vida que se desvanece.