Sexta, 13.
Eu diria que o sistema francês é
concentracionário. O cidadão está controlado de todos os modos e a
administração pública é uma máquina que em vez de estar ao seu serviço, são os
cidadãos que a veneram com respeito e medo. O Código de Trabalho é um tijolo
que assusta (o mesmo código, suíço, possui apenas cem páginas), o mais
insignificante documento é visto e revisto mil vezes, como se o cidadão fosse
um criminoso que não devesse andar à solta, câmaras de vigilância estão por
todo o lado, o Estado não confia em ninguém. Esta manhã acompanhei o Robert à
Câmara para renovação do passaporte. Um pesadelo. Nada está informatizado, confiscam
o passaporte anterior, para o novo são precisas duas fotografias, a identidade
e nascimento dos pais, prova (factura da electricidade) de residência, e duas
horas de espera para ser atendido. Em muitos e generosos aspectos, nós estamos
muito mais avançados e o sistema estatal em Portugal não exerce tanta
fiscalização como em França. Por outro lado, quer-me parecer que estamos também
melhor equipados com sistemas modernos, computorização, facilitação documental
e assim.
- Terminei a leitura de um saboroso livro de Camus: Journaux de voyage. Curiosas e precisas impressões sobre o Brasil,
Montevideo, Estados Unidos, em 1946 e 1949. Um apontamento: L´avion va vite, et moins la France,
l´Espagne, l´Italie ont d´importance. Elles étaient nations, les voilà
provinces, et demain, villages du monde.
- Estou um bucha. Tenho três centímetros a mais de barriga. Tudo o que
como de refinado, saboroso e metonner,
contribui para o meu desastre. Em um mês arranjei trabalho para dois a três
chegado a casa: muita natação, alimentação restrita, escolha criteriosa do que
levo à boca.
- Tempo moche. Não faz
propriamente frio, mas um desconsolo cai do céu na forma de um surdo e
interminável lamento. Tudo aqui parece abafado, sem timbre, sem expressão.
Aonde a um português falta o sol, é a própria vida que se desvanece.