domingo, novembro 15, 2015


Domingo, 15.
François Hollande falou de guerra. Mas quem semeia ventos colhe tempestades. Que o homem é fracote, mentiroso, virado do avesso, todos os franceses sabem. Ninguém aqui o suporta. É visível que ele só tem em mente um segundo mandato que nenhuma sondagem vaticina. A mim dá-me ideia que na sua cabeça não existe qualquer dimensão geoestratégica para a França e para a Europa. Ele anda ao sabor de uma corrente de interesses que se move no eixo Estados Unidos-Alemanha-Reino Unido. Neste aspecto Chirac tinha outra dimensão ao fazer frente aos EUA quando da invasão do Iraque que está na origem de todo este ódio e crescimento dos extremismos. A sua infeliz ideia de enviar para a zona o porta-aviões Charles De Gaulle foi, julgo eu, a gota de água que empurrou mais esta ira. Há na sua decisão algo de prepotente, de querer estar à frente, de armar em valente. Ele devia saber como sabe qualquer cidadão minimamente interessado no mundo que o rodeia, que o impropriamente designado Estado Islâmico é um grupo de fanáticos, sem organização, Estado ou estatuto político com quem se possa negociar e contra o qual nenhum exército pode ter a ambição de ganhar a guerra e muito menos do ar. Os objectivos dos Estados Unidos são sempre os mesmos e conduzem ao desastre. A Europa devia aprender de uma vez por todas com as experiências desastrosas da sua aliança com os americanos. Melhor fora que deixassem os bárbaros formar um Estado Islâmico ou Califado. Ao menos percebíamos com quem combatíamos e o diálogo era mais proveitoso. Se uma guerra tivesse de ser empreendida, sabíamos com quem lutávamos. Para além de desfazer o sonho romântico de muitos franceses que partem para se aliarem a um bando de assassinos que pretensamente querem voltar o mundo do avesso, mas na realidade o que pretendem é confiná-lo  às origens bárbaras das cavernas. 

18,00 horas.
Na sequência dos trágicos acontecimentos de sexta-feira, o Chefe de Estado decretou o estado de sítio. Os museus e organismos públicos estão fechados, a população foi aconselhada a ficar em casa, o pavor reina por todo o lado. Nós fomos de passeio a Chantilly de onde acabo de chegar. Há uma série de anos que lá não ia. Fomos sob uma tarde luminosa, clara, saborosa. Enquanto a Annie que já pouco pode andar ficou no carro, Robert e eu, fizemos a volta do primeiro lago, uns três quilómetros em caminhada moderada. De seguida convidei-os para uns crepes regados com cidra. Os três bebemos uma garrafa inteira, numa atmosfera simpática que a proprietária mal-humorada tudo fez para a tornar insuportável. A um canto da crêperie, um grande fogo a lenha, as paredes pintadas com os pássaros e as aves que pertencem aos três lagos que em tempos palmilhámos, mesas corridas, convívio descontraído, em frente, do outro lado, o pequeno castelo da Dama de Branco, em redor um vasto e denso arvoredo projetado nas águas onde o sol mergulhara também tornando humanos os habitantes que no lago tricotavam a sua superfície líquida, sacudindo-se como donzelas que não vêem homem há uma data de tempo.