domingo, novembro 29, 2015

Domingo, 29.
Chegado a Portugal, fui recebido por um sol e uma temperatura que desviou o impacto da desgraça. Saí de Paris com três graus e um clima social de cortar à faca. Esta terra abençoada pela vida plantada à beira-nada, logo me sugou pela força do tempo paralisado sempre num equinócio desconhecido. Nada acontece e contudo a vida consome-se em pequenos murmúrios, solilóquios requentados de inveja, golpes baixos, modesta ganância, pelintrice e comadrice partidária. Está onde sempre ambicionou estar António Costa. Mas quer ele queira que não, está por um malabarismo constitucional idiota, e não pelo voto popular. Uma rápida vista aos jornais, mostrou-me que o que se conseguiu ao fim de dois meses de patuá, foi adiar novas eleições. Estamos, pois, a ser governados por um governo a prazo. Nada do que reuniu, enfim, a esquerda é sólido a começar pelo chefe da orquestra. Pelo simples motivo, o homem nada sabe de música. Aqui até a tragédia é medíocre.

         - Em Paris decorre a cimeira do Planeta. As consequências de uma tal concentração de ilustres cabeças, traz aos parisienses um desarranjo colossal. Eu próprio fui vítima não só dos crimes praticados pelos barbudos, como pelas represálias do executivo. Estando a França em “estado de guerra” vale tudo até a caça às bruxas. Nunca se falou tanto de sunitas, xiitas e Islão. Por sobre tudo andou presente a bíblica dos muçulmanos o Alcorão. Que tal como a Bíblia dos cristãos, pela sua hermenêutica, presta-se a toda a série de traduções, sem ter em conta o texto e sobretudo o contexto. Entretanto, atrasados, os futebolistas, no seu francês de balneário, juntam-se à mediocridade e afirmam sem convicção: Je suis Paris.  


         - Durante a viagem Quiberon-Paris, indo no banco de trás do carro, pus-me a imaginar coisas. Uma delas que me tinha saído uma fortuna e eu decidira comprar uma vaca desenhada pelo melhor escultor internacional, em tamanho natural. O animal ficou tão perfeito que era difícil acreditar que não era real. Depois, um dia a Annie veio visitar-me a Palmela. À chegada, vendo a magnificência corporal que se distinguia da vegetação, naquele seu modo de se extasiar, disse: “Oh, uma vaca!” Mal entrámos em casa, ela manifestou desejo de ir ver o leiteira de perto. Eu saí, cortei um punhado de erva em frente à casa e dei-lhe para que ela levasse à corpulenta. Acompanhei-a até ao fundo da quinta, uns metros recuado dela. Annie estava frente a frente com o bicho, quando lhe estendeu o que eu lhe havia dado para ele comer. Nessa altura, a vaca, educada, respondeu: “Merci, Madame!” Annie, assustada, tomba para trás, bate com a nuca numa pedra e morre. O que poderia ser uma história cómica, acaba em tragédia! Oh, este cérebro! Hélas!