quarta-feira, novembro 25, 2015

Quarta, 25.
O tempo seja aqui na Bretanha ou em Paris, muda várias vezes ao dia, às vezes oferecendo as quatro estações. Quando chegámos encontrámos um fim de dia lindíssimo, um pôr-do-sol magnífico, tudo impresso na paleta cinza típica desta região. Depois, segunda e terça, o clima oscilou entre um sol discreto e rajadas de vento e chuva forte. A casa custou a aquecer, e a última noite, no meu quarto do primeiro andar, foi de emoções intensas devido à sinfonia de sons vindos do mar, do vento e da chuva a embalarem o meu sono profundo.

         - Acabámos de entrar de um passeio ao longo da costa selvagem. Choveu e, por entre as nuvens escuras, abria a espaços curtos uma macha de sol dourado que ficava a espreitar a terra e o mar, exibindo um sorriso de criança descarada. Nesta altura do ano, vêem-se muitas casas fechadas e mesmo na praça central toda adornada de um novo visual, com esplanadas e bares avançados para o que antes era a estrada atravessada por carros e hoje um centro pedestre, instalou-se uma espécie de nostalgia do Verão, um aceno estival estendido ao longo da calçada no antigo mercado dos sábados. Os grandes cafés correram as portas metálicas, algumas lojas afixam avisos de fecho temporário, mas a vida circula nas ruas estreitas que contornam a praça do general Hoche. As deliciosas creperies, os pequenos restaurantes simpáticos, os cafés tradicionais, os quiosques e toda essa actividade artesanal que não finda nunca e dá para a praia deserta, persiste em não interromper um quotidiano típico de uma cidade de província habitada por sólidos homens e mulheres, gente habituada ao trabalho duro, com personalidade e crença cristã, honestidade e persistência, difícil de abalar. 

         - Portugal é citado, enfim, nos noticiários da noite. Parece que António Costa foi convidado a formar governo. Pobre país, infelizes portugueses! O que nos espera é mais do mesmo e o mesmo é a miséria, a grandeza de uns quantos e a desgraça da maioria.