Quarta,
25.
O
tempo seja aqui na Bretanha ou em Paris, muda várias vezes ao dia, às vezes
oferecendo as quatro estações. Quando chegámos encontrámos um fim de dia
lindíssimo, um pôr-do-sol magnífico, tudo impresso na paleta cinza típica desta
região. Depois, segunda e terça, o clima oscilou entre um sol discreto e
rajadas de vento e chuva forte. A casa custou a aquecer, e a última noite, no
meu quarto do primeiro andar, foi de emoções intensas devido à sinfonia de sons
vindos do mar, do vento e da chuva a embalarem o meu sono profundo.
- Acabámos de entrar de um passeio ao
longo da costa selvagem. Choveu e, por entre as nuvens escuras, abria a espaços
curtos uma macha de sol dourado que ficava a espreitar a terra e o mar,
exibindo um sorriso de criança descarada. Nesta altura do ano, vêem-se muitas
casas fechadas e mesmo na praça central toda adornada de um novo visual, com
esplanadas e bares avançados para o que antes era a estrada atravessada por
carros e hoje um centro pedestre, instalou-se uma espécie de nostalgia do
Verão, um aceno estival estendido ao longo da calçada no antigo mercado dos
sábados. Os grandes cafés correram as portas metálicas, algumas lojas afixam
avisos de fecho temporário, mas a vida circula nas ruas estreitas que contornam
a praça do general Hoche. As deliciosas creperies,
os pequenos restaurantes simpáticos, os cafés tradicionais, os quiosques e toda
essa actividade artesanal que não finda nunca e dá para a praia deserta, persiste
em não interromper um quotidiano típico de uma cidade de província habitada por
sólidos homens e mulheres, gente habituada ao trabalho duro, com personalidade
e crença cristã, honestidade e persistência, difícil de abalar.