quarta-feira, novembro 04, 2015

Quarta, 4.
Em casa da Anne na calma zona de Mittel Hansbergen (que significa a casa a meio da colina), para uma taça de champanhe. Bonito interior, bem decorado, com uma imponente e moderna lareira acesa, atmosfera serena que a arte indiana nas paredes favorece. Anne foi a primeira mulher de Lionel, mas nem por isso os dois casais puseram de parte os anos que os uniu. Pelo contrário, apoiam-se mutuamente e aos filhos das duas ligações. Este estado civilizacional, permite que os amigos dos dois lados continuem a frequentar-se e a desenvolver laços fraternos comuns. Cá por casa, o miúdo do casal, Min-Nam, quatro anos, está de novo com problemas de saúde. Quando cheguei, Lionel ressacava de uma complicação de garganta que ele lhe pegou. Tanto o pai traz vírus do hospital, como o filho da escola. Espero passar incólume a tanto veneno.    


         - Lionel para além de pediatra é também pneumologista com ensaios publicados e nessa condição travámos uma interessante conversa sobre os malefícios da poluição nas grandes cidades. Nada que eu não soubesse já, mas explicado por ele foi como se a revelação das consequências dentro de quarenta anos, quero dizer, para as novas gerações me abalassem como um susto de morte. Ele e eu somos de acordo que os Estados conhecem a situação, mas são incapazes de fazer frente aos lóbis assassinos que a soldo dos lucros não hesitam em destruir tudo. É verdade que cada um de nós pode fazer a sua parte. Por exemplo: ele vai, Verão e Inverno, para o hospital onde é director clínico, de bicicleta; eu desloco-me de comboio, barco ou autocarro. Raramente levo o carro nas minhas viagens a Lisboa. Quando regressar, carregado, tomarei o metro, o autocarro e o táxi – e garanto-vos que não me caiem os parentes na lama, nem a importância que outros julgam possuir montados nos seus transportes privados, ensombra a minha dignidade. A propósito, vou-me despachar para Paris.