Quinta,
5.
De
retorno a Paris, sou recebido por uma chuva constante e um pouco frio. Nada que
me paralise ou me impeça de percorrer os sítios da minha exaltação. Esta manhã,
terminados os afazeres que me levaram ao bairro da Ópera, continuei por lá em
passeios de reconhecimento de uma zona outrora imprescindível quando vinha à
Cidade Luz. Um deles o Café de la Paix. Logo que entramos, somos lambidos da
cabeça aos pés por uma clientela sôfrega daquilo que nunca a satisfaz, e subjaz
incontido nos dois focos orbitais que, junto com a mente insaciável, traduz o
desassossego nervoso próximo da avidez mórbida. São na maioria senhores que
passaram a meia-idade, cozidos de remorsos pardos, declinados numa espécie de
virtude doce que não consegue esconder a frustração do quanto ainda julgam
poder dar e receber.
- Aquele cómico mendigo, deitado na
saliência de uma montra no Boulevard des Capucines, a cana presa não sei onde,
suficientemente longa porém para pescar o peixe miúdo que o passante depositava
no frasco de iogurte atado na extremidade!
- Livros, livros e mais livros. Há-os
por todo o lado e são sempre uma atracção, o tempo que precisamos para os
folhear, acariciar, dialogar. Hoje descobri um que decerto irei devorar: Fuir pour vivre, escrito pela dupla dos
irmãos Mann, Erika e Klaus.
- Que se passa no petit pays? Nada. Aqui pelo menos não chega uma notícia, uma referência,
um bocejo. E, contudo, parece que as águas políticas andam agitadas de...
negociatas.