terça-feira, abril 14, 2015

Terça, 14.
Há muitos anos que amigas e amigos me aconselham a deixar de tomar leite. Quando pergunto porquê, ouço razões que não me convence e muitas vezes são titubeadas por quem se deixa levar pelo diz-que-diz. Então decidi estudar o problema e andei a ler muita coisa sobre o assunto para concluir que vou deixar de intercalar o pequeno-almoço com chá ou com leite, ficando preferencialmente por este que me acompanha desde miúdo misturado com café. Aduzi dos meus estudos que aqueles que combatem o leite, o fazem com medo de certas doenças e devido à rejeição à proteína do leite de vaca que é na realidade muito diferente do leite humano. Assim argumentos contra: intolerância à lactose por haver dificuldade em digerir o açúcar dos lacticínios, provocar diarreia, gases e cólicas, elevado teor de gordura saturada que aumenta o risco de doenças cardíacas, do cancro da próstata, do ovário e da osteoporose, o consumo exagerado de leite está ainda associado a diabetes, obesidade, além de aumentar os níveis de insulina e alguns outros processos bioquímicos e de uma forma geral a doenças oncológicas isto, segundo o técnicos, se forem consumidos mais de três copos de leite por dia, o que nunca foi o meu caso mesmo em jovem. A favor do seu consumo diário: está o cálcio óptimo para o crescimento dos ossos, o combate à osteoporose, a vitamina D e K, a possibilidade de diminuir a tensão alta e o cancro do cólon. Contudo, o leite é muito mais do que proteínas, hidratos de carbono, gordura saturada, cálcio e outros minerais, diz o nutricionista Carmo Cabral, tem também uma série de compostos bioquímicos, hormonais e outros, que possuem uma acção benéfica no corpo. Acresce que a proteína do leite é de grande qualidade, porque possui os aminoácidos essenciais para o restabelecimento dos tecidos. Um simples copo de leite diário garante: 38% de cálcio, 16% de proteínas, 11% de potássio (o tal que ajuda a manter a níveis óptimos a pressão arterial), 10% de vitamina A (importante para a pele), 13% de vitamina B12 (que ajuda ao transporte do oxigénio nas células), 24% de vitamina B2 como seu acréscimo de riboflavina que dá energia, 20% de fósforo. Se bem compreendi, o problema – se problema existe – está na lactose, um hidrato de carbono composto pelos açúcares, glicose e galactose. Quem for alérgico a estes elementos, deve prevenir-se. Quem não for deve aproveitar a riqueza que o leite oferece desde que, como tudo na vida, o faça com moderação. As alternativas – soja, amêndoa, arroz, aveia – não me convencem.    

         - Faleceu o escritor alemão Gunter Grass. Gostava muito dele, da sua escrita desempoeirada, da sua pessoa bonacheirona. Um dia, estando eu de passagem no Centro Cultural de S. Lourenço, vi-o entrar. Não lhe falei, mas estive por assim dizer com ele. O homem era simpático e pelo que percebi, tinha por ali uma casa. Era um bom pintor e uma vez quis adquirir uma tela dele – mas fiquei-me pelo desejo. A sua autobiografia Descascando a Cebola que se lê com prazer, provocou tumulto quando ele disse que pertenceu a Gestapo. Feito a pulso, muito da sua temática, imortaliza uma vida de conquistas duras e, por isso, eternas. 

         - Morreu também o editor e escritor Maspero. Quando ainda jovem, sempre que ia a Paris, não resistia a entrar na sua livraria situada perto da fonte de S. Michel, em pleno Quartier Latin. Ainda devo ter por aí a obra de Mao, brochada a plástico, de capa vermelha que ele se esforçou por dar a conhecer. Como Portugal era um covil, uma prisão hedionda para as ideias, retemperava-me lá adquirindo toda uma biblioteca política que um dia, chateado e desiludido com o  25 de Abril, ofereci ou deitei ao caixote do lixo. Foram várias dezenas de livros de teor político que durante décadas compuseram a minha biblioteca.  


         - O malabarismo da advocacia exercido nas centrais do encobrimento do gamanço que são os escritórios dos advogados, inventou para a defesa de José Sócrates, a desconfiança do ex-primeiro-ministro relativamente aos bancos. Segundo dizem, o homem não tinha confiança nos banqueiros – ainda que apoiasse e de que maneira Ricardo Salgado fazendo-o como se dizia o banqueiro do sistema – ao ponto de andar com elevadas quantias em envelopes com que pagava a sua faustosa vidinha. Os milhões que andavam de um lado para o outro, de Lisboa para Paris, de Paris para Leiria, iam protegidos dentro de simples envelopes, sem factura ou justificação. Há qualquer coisa de patético ou inocência nisto. Quem é que acredita numa tal invenção. Que país foi este que acreditou num homem e num partido que com ele colaborou na maior e mais tenebrosa manobra de ludibriar um povo e uma nação.