Terça, 14.
Há muitos anos que amigas e amigos me
aconselham a deixar de tomar leite. Quando pergunto porquê, ouço razões que não
me convence e muitas vezes são titubeadas por quem se deixa levar pelo
diz-que-diz. Então decidi estudar o problema e andei a ler muita coisa sobre o
assunto para concluir que vou deixar de intercalar o pequeno-almoço com chá ou
com leite, ficando preferencialmente por este que me acompanha desde miúdo
misturado com café. Aduzi dos meus estudos que aqueles que combatem o leite, o
fazem com medo de certas doenças e devido à rejeição à proteína do leite de
vaca que é na realidade muito diferente do leite humano. Assim argumentos
contra: intolerância à lactose por haver dificuldade em digerir o açúcar dos
lacticínios, provocar diarreia, gases e cólicas, elevado teor de gordura
saturada que aumenta o risco de doenças cardíacas, do cancro da próstata, do
ovário e da osteoporose, o consumo exagerado de leite está ainda associado a
diabetes, obesidade, além de aumentar os níveis de insulina e alguns outros
processos bioquímicos e de uma forma geral a doenças oncológicas isto, segundo
o técnicos, se forem consumidos mais de três copos de leite por dia, o que
nunca foi o meu caso mesmo em jovem. A favor do seu consumo diário: está o
cálcio óptimo para o crescimento dos ossos, o combate à osteoporose, a vitamina
D e K, a possibilidade de diminuir a tensão alta e o cancro do cólon. Contudo,
o leite é muito mais do que proteínas, hidratos de carbono, gordura saturada,
cálcio e outros minerais, diz o nutricionista Carmo Cabral, tem também uma
série de compostos bioquímicos, hormonais e outros, que possuem uma acção
benéfica no corpo. Acresce que a proteína do leite é de grande qualidade,
porque possui os aminoácidos essenciais para o restabelecimento dos tecidos. Um
simples copo de leite diário garante: 38% de cálcio, 16% de proteínas, 11% de
potássio (o tal que ajuda a manter a níveis óptimos a pressão arterial), 10% de
vitamina A (importante para a pele), 13% de vitamina B12 (que ajuda ao
transporte do oxigénio nas células), 24% de vitamina B2 como seu acréscimo de
riboflavina que dá energia, 20% de fósforo. Se bem compreendi, o problema – se
problema existe – está na lactose, um hidrato de carbono composto pelos
açúcares, glicose e galactose. Quem for alérgico a estes elementos, deve
prevenir-se. Quem não for deve aproveitar a riqueza que o leite oferece desde
que, como tudo na vida, o faça com moderação. As alternativas – soja, amêndoa,
arroz, aveia – não me convencem.
- Faleceu o escritor alemão Gunter Grass. Gostava muito dele, da sua
escrita desempoeirada, da sua pessoa bonacheirona. Um dia, estando eu de
passagem no Centro Cultural de S. Lourenço, vi-o entrar. Não lhe falei, mas
estive por assim dizer com ele. O homem era simpático e pelo que percebi, tinha
por ali uma casa. Era um bom pintor e uma vez quis adquirir uma tela dele – mas
fiquei-me pelo desejo. A sua autobiografia Descascando
a Cebola que se lê com prazer, provocou tumulto quando ele disse que
pertenceu a Gestapo. Feito a pulso, muito da sua temática, imortaliza uma vida
de conquistas duras e, por isso, eternas.
- Morreu também o editor e escritor Maspero. Quando ainda jovem, sempre
que ia a Paris, não resistia a entrar na sua livraria situada perto da fonte de
S. Michel, em pleno Quartier Latin. Ainda devo ter por aí a obra de Mao,
brochada a plástico, de capa vermelha que ele se esforçou por dar a conhecer.
Como Portugal era um covil, uma prisão hedionda para as ideias, retemperava-me
lá adquirindo toda uma biblioteca política que um dia, chateado e desiludido
com o 25 de Abril, ofereci ou deitei ao caixote do lixo. Foram várias
dezenas de livros de teor político que durante décadas compuseram a minha
biblioteca.
- O malabarismo da advocacia exercido nas centrais do encobrimento do
gamanço que são os escritórios dos advogados, inventou para a defesa de José Sócrates,
a desconfiança do ex-primeiro-ministro relativamente aos bancos. Segundo dizem,
o homem não tinha confiança nos banqueiros – ainda que apoiasse e de que
maneira Ricardo Salgado fazendo-o como se dizia o banqueiro do sistema – ao
ponto de andar com elevadas quantias em envelopes com que pagava a sua faustosa
vidinha. Os milhões que andavam de um lado para o outro, de Lisboa para Paris,
de Paris para Leiria, iam protegidos dentro de simples envelopes, sem factura
ou justificação. Há qualquer coisa de patético ou inocência nisto. Quem é que
acredita numa tal invenção. Que país foi este que acreditou num homem e num
partido que com ele colaborou na maior e mais tenebrosa manobra de ludibriar um
povo e uma nação.