Quarta, 1 de Abril.
O mundo dizia um sujeito outro dia num
programa de televisão, é o mundo das relações. Com isto queria ele dizer, o
mundo do diz bem de mim para teres a recompensa de eu dizer o melhor possível
de ti. Enfim, o mundo da mediocridade, da gentinha contentinha da Silva. Pela
minha parte, há muito que me afastei disso nunca tendo estado próximo. Prefiro
a liberdade, o desentulho dos sentimentos que aprisionam, a obrigação de ser
alguém projectado em situações cínicas que não fazem avançar nada antes
paralisam tudo. O independente, o livre espírito, é um ser solto, que se move
pelas paixões, pela verdade e por uma certa forma de pensar o mundo fora da
triste condição do pateta que crê na amizade do tipo facebook. Costumo dizer: a
mim chega-me um ou dois Amigos. Para morrer basta estar vivo. Bem sei que esta
forma de pensar redimensiona os valores atirando-os ao precipício de uma
solidão muitas insustentável, atravessada do sentimento de injustiça. Não
ignoro porém, que o mundo das aparências esmaga a identidade, a pessoa,
produzindo nela uma sensação que traduz uma forma de solidão assustadora que
nos leva ao encontro daquilo que intimamente não somos. Prefiro gastar-me a
lutar contra a solidão quando ela é indesejada, que me prender a amizades estéreis,
assentes na vacuidade, na razia dos sentimentos, na vastidão das oportunidades egoístas.
Não há mundo mais árido que esse das amizades passivas sem inimigos. Uma pessoa
que não tem inimigos, não sabe quem é. Ou saberá, obliquamente.