Quinta, 9.
Dia triste o de ontem, escuro, depressivo.
Como esteve sempre a chover, não deixei o meu posto em frente à janela que dá
para o espaço das árvores onde as macieiras começaram desde o princípio da
semana a florir. Depois do almoço observei uma hora de leitura e a seguir fui
dormir uma sesta de dez minutos. A vida cumpriu-se, mas arrastada, desmotivada,
ensombrecida. Nada aqui sorriu. Pelo contrário das árvores ao Black, deste ao
monge solitário e ao campo, andou tudo de cerviz baixa impregnada do peso insuportável
das horas.
- Gosto muito de Alexandra Lucas Coelho. Nem sempre foi assim. Agora que
ela envelheceu como todos nós, apurou a sensibilidade, tornou-se sábia pela
leveza como vê a vida e no-la comunica. Há qualquer coisa de metafísico na
exortação que faz da vida enquanto valor supremo e também da relevância que diz
respeito às relações entre a política e a moral ou mais exactamente da política
com moral. Ao lê-la apetece citar Sartre: O
homem é um ser que se esquiva para o futuro.
- Vou organizando o meu romance à medida que me encaminho para o final.
Ao todo 34 capítulos, 488 páginas, 175.135 palavras, 840.166 caracteres (sem
espaços), 1.603.348 caracteres (com espaços), 5.104 parágrafos, 15.908 linhas
(dados fornecidos pelo computador).