Domingo, 19.
Ontem meia Lisboa dividiu-se no adeus a
dois homens que marcaram com a sua generosidade e amor à Cultura um e à Ciência
outro. Refiro-me a Luís Serpa e Mariano Gago. Dois seres de excepção que
deixaram um rasto de honestidade e entrega a causas nobres. Eu estive na igreja
de São João de Deus, na Praça de Londres, mas devia ter estado também na igreja
da Estrela.
- Os artistas morrem nos hospitais públicos (o Luís no S. José), os
políticos nos privados, salvo o caso do ex-ministro da Ciência (no Santa Maria
como Saldanha Sanches, ambos da mesma geração, ambos serviram a política sem se
servirem dela) o que por si só são duas honrosas diferenças profundamente
reveladoras.
- Abatido, fui ao encontro da Conceição que estava no Chiado. Com ela
estive um espaço de tempo à conversa, depois viajei para o C.I. ao encontro do
Príncipe onde almocei e de seguida retornei a casa que é onde eu aligeiro os
desgostos e me reconstruo para lá dos possíveis, quero dizer, dos impossíveis.
- A saga dos condenados à morte nas águas italianas não pára. Hoje estão
desaparecidos pelos menos 700 imigrantes num naufrágio de que não se conhece
ainda a amplidão. São seres humanos acossados pela sobrevivência que deixaram a
Líbia a caminho do paraíso. O Governo de Matteo Renzi já por diversas vezes
pediu ajuda à União Europeia para fazer face ao descalabro financeiro de ter
que acolher milhares de crianças, mulheres, homens de todas as idades,
alojá-los, nutri-los, orientá-los na vida. A querida Organização faz ouvidos de
mercador. Só o Papa se insurge, mas ele pouco pode face à dimensão da tragédia.
E lembrar-nos nós que a França de Sarkosy se servir de Kadafi para depois o
entregar aos seus algozes e transformar o país num covil de assassinos e malfeitores,
mafiosos e franco-atiradores.
- As minhas leituras actuais? Três diários: de Jean-Paul Sartre que é
mais filosofia; de Orwell que vou lendo chegando à página 120 e trata da apanha
do lúpulo, das lutas dos mineiros, das minas de carvão no início do século
passado em Inglaterra e, portanto, muito monótono; de Gabriel Matzneff que defende
corajosa e por vezes pateticamente a imagem de “desgraçado” que a França lhe
colou e que ele no íntimo não gostando aceita.