domingo, abril 19, 2015

Domingo, 19.
Ontem meia Lisboa dividiu-se no adeus a dois homens que marcaram com a sua generosidade e amor à Cultura um e à Ciência outro. Refiro-me a Luís Serpa e Mariano Gago. Dois seres de excepção que deixaram um rasto de honestidade e entrega a causas nobres. Eu estive na igreja de São João de Deus, na Praça de Londres, mas devia ter estado também na igreja da Estrela.

         - Os artistas morrem nos hospitais públicos (o Luís no S. José), os políticos nos privados, salvo o caso do ex-ministro da Ciência (no Santa Maria como Saldanha Sanches, ambos da mesma geração, ambos serviram a política sem se servirem dela) o que por si só são duas honrosas diferenças profundamente reveladoras.

         - Abatido, fui ao encontro da Conceição que estava no Chiado. Com ela estive um espaço de tempo à conversa, depois viajei para o C.I. ao encontro do Príncipe onde almocei e de seguida retornei a casa que é onde eu aligeiro os desgostos e me reconstruo para lá dos possíveis, quero dizer, dos impossíveis.  

         - A saga dos condenados à morte nas águas italianas não pára. Hoje estão desaparecidos pelos menos 700 imigrantes num naufrágio de que não se conhece ainda a amplidão. São seres humanos acossados pela sobrevivência que deixaram a Líbia a caminho do paraíso. O Governo de Matteo Renzi já por diversas vezes pediu ajuda à União Europeia para fazer face ao descalabro financeiro de ter que acolher milhares de crianças, mulheres, homens de todas as idades, alojá-los, nutri-los, orientá-los na vida. A querida Organização faz ouvidos de mercador. Só o Papa se insurge, mas ele pouco pode face à dimensão da tragédia. E lembrar-nos nós que a França de Sarkosy se servir de Kadafi para depois o entregar aos seus algozes e transformar o país num covil de assassinos e malfeitores, mafiosos e franco-atiradores.


         - As minhas leituras actuais? Três diários: de Jean-Paul Sartre que é mais filosofia; de Orwell que vou lendo chegando à página 120 e trata da apanha do lúpulo, das lutas dos mineiros, das minas de carvão no início do século passado em Inglaterra e, portanto, muito monótono; de Gabriel Matzneff que defende corajosa e por vezes pateticamente a imagem de “desgraçado” que a França lhe colou e que ele no íntimo não gostando aceita.