quarta-feira, abril 08, 2015

Quarta, 8.
Oscar Wilde ainda ele. De todos os ensaios do santo autor de O Retracto de Dorian Gray que li até hoje e já foram alguns, H. Montgomery Hyde é quem melhor soube fazer a simbiose entre o artista e a obra. Através de Hyde é toda a figura humana de Wilde que se agiganta ao longo das duzentas e muitas páginas do livro Oscar Wilde Les années maudites a par das circunstâncias e das razões que levaram aos títulos que nasceram nos dois anos de trabalhos forçados na prisão: La Ballada de la Geole Reading e De Profundis. Posto em liberdade em Abril de 1895, Wilde refugia-se em França porque foi na Europa o único país que continuou a representar as suas peças de teatro e também aquele que teve em conta o extraordinário poeta que é e insurgiu-se contra as falsas razões morais que o levaram à prisão. De Dieppe, com o nome de Sebastien Melmoth que criou com medo ainda das represálias do marquês de Queensberry,  instrui o seu editor para que envie a Martin - um rapaz que lhe escreveu da prisão de Reading de onde ele havia saído e que por sua vez também devia deixar o presídio em breve - 5 livres e 10 shillings. Na carta que endereçou ao recluso, diz-lhe para não voltar a escrever o seu verdadeiro nome e aconselha-o que continue a ser um rapaz leal. O editor em resposta diz-lhe que tenha tino porque não possui dinheiro para andar a esbanjar em compaixão. Mais tarde dirige-se ao seu amigo e testamenteiro Robert Ross, solicitando-lhe que envie da parte do preso C.3.3. a vários reclusos pequenas somas entre 1 livre e 1 livre e 10 shillings, acrescentando: “ce sont mes dettes d´honneur et je dois les payer”, num total de 22 livres e 10 shillings. Algumas cartas que dirigiu aos seus ex-companheiros de prisão, documentam o seu carácter. Eis o excerto de uma.

         Mon cher ami,
         Je vous envoie un mot pour vous montrer que je ne vous ai pas oublié. Nous étions de vieux amis sur la galerie C.3, n´est pas? J´espère que vous allez bien et travaillez.
         Soyez um brave garçon et ne vous attirez plus d´ennuis. Vous récolteriez une terrible sentence. Je vous envoie 2 livres pour vous porter chance. Je suis bien pauvre moi-même maintenant, mais je sais que vous les accepterez comme souvenir. Il y a aussi 10 shillings que j´aimerais bien que vous donniez à un petit gars aux yeux noirs qui avait récolté un mois, je crois – C.4.14. Il était là du 6 février au 6 mars – un petit gars de Wantage, je crois, et un jovial petit gars.  

         Apesar das ameaças de Lord Queensberry em matar um ou os dois, Wilde rende-se ao seu amor e vai ao encontro de Bosie que está em Nápoles instalado no Hotel Real dos Estrangeiros. Os amigos inquietam-se. Oscar responde-lhes: “Je l´aime et l´ai toujours aimé.” Chegado a Itália e, não obstante ter deixado claro por carta que estava na pobreza, Wilde apercebe-se que Lord Alfred Douglas continua a viver acima dos seus rendimentos. Decidem então deixar o hotel e alugam uma vivenda (Villa Giudice) onde vão passar dois meses desesperantes. Como bom escroque que sempre foi, Bosie abandona o amigo deixando-lhe uma dívida enorme para liquidar. Começa aí por assim dizer a decadência abrupta do poeta. Cartas sucessivas desesperadas são remetidas para todos os amigos, ao editor que tentava publicar as suas obras e se via confrontado com o desprezo dos ingleses e da classe intelectual. Oscar Wilde era um proscrito no seu país, a Irlanda, em Inglaterra, nos Estados Unidos. Abandona Nápoles e vai instalar-se em Paris onde a vida foi de um sofrimento atroz até à morte, em 30 de Novembro de 1900.


         - O Black depois de dois meses de férias estafantes nas Filipinas, voltou, esgotado, para o trono que é o seu no jardim.