sexta-feira, abril 10, 2015

Sexta, 10.
Fortuna está a trabalhar arduamente para uma nova exposição desta vez na Pousada de Palmela. Gosto muito dele, mas por vezes cansa-me porque repete e repete sempre as mesmas coisas, os mesmos poemas, os mesmos delírios. Talvez seja próprio dos oitenta anos. Todavia, eu espero que alguém próximo de mim se lá chegar, me faça saber quando me devo calar  e render ao silêncio que é de todos os estados o mais benfazejo.

         - Eu gostava de saber que tem o Palácio de Belém de tão atractivo para que num país com dez milhões de pessoas haja já dez putativos candidatos ao seu assalto. 

         - Não via o António há algum tempo. Leio de vez em quando os seus artigos no Público. “Então por onde tem andado? – Por Lisboa. – Por Lisboa! – Quem não aparece, esquece. – Eu não apareço em lado nenhum e nem vontade tenho disso – digo-lhe. – Mas eu não me chamo Helder de Sousa e não sou rico.” Na resposta está implícito que sou abastado. O costume. De nada adianta repetir que vivo no limite da dignidade para manter este espaço.


         - Depois destes dias de chuva, o campo parece-se com o Paraíso Terreal. Tudo abunda aos nossos olhos, tudo irrompe das profundezas do silêncio, imergindo de um sono que sonhou a Terra como um lugar de paz, harmonia e beleza. Há uma geografia de cores que torna tudo num jardim paradisíaco, sob um céu onde as nuvens se atardam em pequenos grupos a conversar à roda de um sol tímido espojado num imenso manto acastelado de luz.