segunda-feira, abril 20, 2015

Segunda, 20.
Não só se confirmam as 700 mortes dos infelizes fugidos da morte dos jihadistas que instaram o terror na Síria e na Líbia, como estas poderão ascender a mais de novecentas. Novecentas – crianças, velhos e novos, pessoas de todas as idades – que desafiaram o Mediterrâneo para fugir a uma vida onde só a esperança parece nunca ter desaparecido. Esperança em chegar a bom porto, esperança numa vida digna, esperança abastecida do essencial: saúde, educação, paz, pão. Mas foi preciso uma tal tragédia para a nossa querida União Europeia através do primeiro-ministro italiano, tocar a reunir em prol de uma catástrofe social e humana que há muito devia ter merecido a atenção de todos. Nenhuma nação está livre de semelhantes dramas. A principal tarefa das nações é reunir em torno da solidariedade, levando a ajuda onde uma vida peregrina pela dignidade.


         - O Público de ontem trazia uma interessante entrevista ao filho do célebre Pablo Escobar, o colombiano patrão do cartel da droga de Medellín. O homem é uma personagem de romance e o filho, Juan Pablo Escobar, hoje arquitecto, escreveu um livro para dizer com conhecimento de causa muitas verdades. Muitas dessas verdades já eu tinha equacionado quando cá como por esse mundo fora, vejo a polícia orgulhosa diante de uns quilos de estupefacientes e montes de notas de banco apreendidos aos chamados gangs do crime. A seguir vem a nota do comando dizendo que queimou aquilo tudo e o dinheiro apreendido dado a instituições de caridade. Alguém acredita? Eu não. Uma nota da personalidade do homem que um dia ambicionou entrar na política. Dou a palavra ao filho: “Ele era o grande patrocinador da corrupção na Colômbia, mas estou certo de que se tivesse verdadeiramente entrado na política teria sido o menos corrupto de todos. Não precisava.” A mesma impressão tinha Salazar que costumava chamar para o Governo os mais afortunados com este mesmo princípio: não precisavam de roubar, já tinham o suficiente. Juan Pablo Escobar sustenta que os governos não estão interessados em legalizar a droga porque lucram muito com ela. Lucram as nações e sobretudo os políticos, a polícia, os juízes. E vai mais longe, pondo o dedo na ferida que dói, quero dizer no cerne da questão: “Esse quilo de cocaína tinha um grau de pureza de 95 a 98 por cento. O comerciante norte-americano que o comprava convertia-o em oito quilos, acrescentando-lhe veneno. (segurem-se bem) Vidro moído, cal, qualquer coisa que se possa converter num pó branco servia. Esse comerciante é que ficava verdadeiramente rico. E é o pior de todos, porque não se importa de acrescentar veneno à droga. Mas esse mafioso corporativo nunca aparece em cena. Fala-se do cartel de Medellín ou do Cali, mas nunca dos cartéis de Miami, de Nova Iorque ou de Chicago. O cartel de Cali vendeu 2 mil milhões de dólares de cocaína aos EUA. O que significa que alguém fez 16 mil milhões que nunca saíram do circuito financeiro dos EUA.” Surpreendidos? Há mais. “A droga chega onde quer e a única forma de a combater é através da educação, da cultura, da arte. É um problema de saúde pública, não se resolve pela força policial ou militar. Não podemos acreditar que depois de 40 anos de fracasso na luta contra as drogas, podemos ter resultados melhores aplicando a mesma fórmula. Essa guerra está perdida. Mas a violência não pára. Veja o México. É o mesmo modelo transladado para outro lugar. Vai mudando. Antes era na Bolívia e Peru, depois Colômbia, amanhã na Venezuela e Panamá. Vai-se movendo, se te chateiam aqui, vais para ali. Os estados não fazem nada, porque são máquinas lentas e burocráticas, que só têm a ganhar com a corrupção que a proibição permite.” Era o que se passava com o álcool. Juan Escobar recorda e bem que os Kennedy, enriqueceram como contrabandistas de vinho. Fizeram com o vinho aquilo que os cartéis da droga de Chicago hoje fazem com a marijuana e outras drogas.