domingo, julho 30, 2023

Domingo, 30.

Não sei o que me deu, acordei com o cérebro inundado de Ana Boavida. Levantei-me às seis da manhã e, depois de tomar o pequeno-almoço, fui regar, tomei um duche e mergulhei nas páginas do romance das oito às dez. Não vou dizer que as musas desceram sobre mim, mas o que ficou penso que é suficientemente sólido para ficar. De seguida saí para tomar a bica, ler o jornal, assistir à missa e após o almoço fiz uns quantos frascos de compota de amora sobre o calor do fogão, cumprindo o programa que me havia proposto realizar. Outro acto criativo que me saiu muito bem, embora fosse a primeira vez que experimentava o fruto. 

         - Vamos ver se nos entendemos. Eu não estou contra as Jornadas da Juventude e a vinda de Sua Santidade ao nosso país; estou escandalizado e enraivecido pelo aproveitamento do Estado laico e contra o novo-riquismo pacóvio do senhor Moedas e a promoção de certos sacerdotes-políticos e dos políticos-sacerdotes. Mas também acrescento: estou e estarei sempre do lado daqueles que reivindicam melhor salários, reformas, condições de vida profissionais e pessoais condignas. Há dinheiro para tudo: amigos, corrupção, políticos, reinação, fachada, os ditos altos funcionários, naturalmente os melhores do mundo pagos a peso de ouro, viagens, contratos temporários sem controlo, obras desbaratas, caríssimas e sem utilidade, etc. etc., mas nunca há para pagar com dignidade à maioria dos portugueses que vivem num sufoco e a esmolar o Estado. 

         - Eu sou observador e tenho esta fraqueza de pensar. Por isso, tenho notado que a maioria dos políticos com o tempo estupidificam, perdem o sentido de humor (os poucos que o têm) e tornam-se pessoas pardacentas. Nada a ver com os seus congéneres americanos ou ingleses, por exemplo. 

         - Manchete da capa do Público: “Partidos descartam mexer na lei para responder a “disfunções graves” na Justiça.” Bah! Mas não é essa a sua função, aquela que eles aprendem nas cápsulas do partido!  

         - Leio sem me surpreender: os bancos ganharam só no primeiro semestre deste ano quase dois milhões de euros. Os paizinhos dos actuais banqueiros, que estiveram ao lado de Salazar e Marcelo, se adivinhassem que em democracia ganhavam bem mais que em ditadura, que teriam eles feito? A senhorita Ana Sá Lopes, escreve: “A plebe é para ser pobre, a banca merece os lucros.” Bah, mas sempre assim foi! O capital nos regimes democráticos é quem manda em tudo e, sobretudo, na classe política dirigente. Eu não os condeno – penalizo os fracos governantes.