segunda-feira, julho 03, 2023

Segunda, 3.

O artigo de Fr. Domingues no Público de ontem, vem impregnado da ideia forasteira do passado, quando uns quantos ditos de esquerda, se juntavam nas homílias da capela do Rato. No escrito lá vem mais uma vez a ideia de que tudo é política e que a religião não escapa a esse epíteto tão querido dos que combateram o regime de Salazar e Caetano e ainda bem, mas que daí não arredam pé nem tomam as distâncias necessárias para olharem o presente. Todavia, não posso deixar passar em branco o que há nele de substancial e próximo da doutrina de Jesus Cristo: “Quem gasta a sua vida a responder ao grito dos pobres, dos doentes, dos abandonados não perde nada. Descobre que a alma da vida é a alegria de servir.”Já agora, Fr. Bento, eu acrescentaria e a obrigação do católico de servir. E se me permite, digo-lhe o que Lenine disse: “Se queres dominar a religião, introduz nela a política.”Talvez não sejam estas as palavras, mas o sentido é este.  

         - Já que falamos de religião. Domingo fui assistir à missa das nove horas na bonita capeta do Senhor do Bomfim, em Setúbal. Um pouco antes do início da cerimónia, entram dois rapazes, ajoelham-se, persignam-se, curvam-se e ao fazê-lo compenetram-se pondo as mãos na cabeça e assim ficam uns cinco minutos. Entretanto, o ofício começa. Então sentam-se, levam à boca uma pastilha elástica, mastigam-na enquanto respondem aos apelos que chegam aos smartphones. A meio da homília, levantam-se e saem. Sem comentários.  

         - A desordem não desarma em França. É para mim evidente que os franceses detestam Macron, votaram nele porque não tinham alternativa, e o seu reinado em consequência tem sido muito atribulado. Mas também a sua forma de governar, majestática, para os ricos, com aquele grau de obscenidade que adquiriu quando fora banqueiro, mais interessado em deixar nome nas instituições europeias e mundiais, que na governação interna que reduza as diferenças raciais e económicas. 

Dito isto, conheço um pouco a França e os franceses para ter uma apreciação aproximada da realidade. Povo ingovernável, com laivos gritantes de racismo no quotidiano, selvagem de conduta, egoísta e convencido que ainda é top da civilização europeia, esquecendo-se do muito que perdeu ao longo dos anos precisamente porque se fechou na soberba da sua antiga riqueza e perdida a áurea cultural e espiritual que o distinguiu no século XIX. Por isso, não consigo perceber porque na sua fúria contra a governação de Chou Chou, incendeia automóveis dos particulares (por noite foram 1800 viaturas), ataca e põe fogo à residência privada de um autarca com dois filhos lá dentro, ateia fogo a centros comerciais e edifícios públicos, pilha por todo o lado, atira foguetes contra os agentes da autoridade (em número de 45 mil nas ruas), num vandalismo de que não há memória. Como aqui digo muitas vezes, gosto da revolta contra a política de clã mafioso, levada a cabo por quase todos os países da zona euro; detesto o fanfarronismo dos eurodeputados, pagos a peso de ouro com os nossos impostos; a imensa corrupção que campeia por todo o lado; a infeliz política exercida pela UE, distante dos povos que a integram, como se fossem reis de um enorme reino de sombras e escravos à sua ordem. Aprecio os inconformados, os que não alinham no padrão geral dos analfabetos, conformes com aquilo que lhes dizem, sem um momento de reflexão, aceitando as ideias e as condutas dos iluminados que em primeiro se banham da luz imprecisa da ignorância e vivem nos castelos nublosos dos seus esquemas criminosos. Devemos descer à rua para lutar pela verdade, impedir políticas de bandos marginais que nos governam, vindos dos partidos hoje transformados em catedrais de conluio, escolas de interesses corporativos e até pessoais, à revelia da nação onde reside um povo trabalhador que mal ganha para comer e vive esfarrapado de tristeza e indignidade.  Há tantas formas de calar a boca fedorenta de onde brota o discurso enviesado, mentiroso, cozinhado nos gabinetes com os que não foram eleitos, mas detêm a riqueza que pertence aos que trabalham, num jogo claro-escuro onde se perde a inocência e se conquista a arrogância, o despotismo, a falsa ideologia. Desçamos, pois, à rua. Bloquemos a vida que triunfa da pobreza, gritemos contra os que nos oprimem, nos mentem, nos empurram todos os dias para a pobreza e a marginalidade de nós próprios. Façamos com que os bancos não abram, as estradas sejam bloqueadas, as ruas inundadas de indignados, a vida económica fique paralisada; mas façamos tudo isto porque temos a força do nosso lado e não esperemos que seja nas urnas que as coisas mudem, porque os prepotentes sabem como convencer os incautos, os temerosos, os que porfiam a verdade à boca das urnas.  

         - Espero não me desiludir com o ministro da Administração Interna, senhor José Luís Carneiro. Quando o Partido Socialista agendou a discussão de um projecto de lei sobre a descriminalização das drogas sintéticas no Parlamento para amanhã, ele avisou que é preciso ponderar muito bem o assunto. Que diferença relativamente aos seus pares! Não tarda é posto na rua. 

         - Os jornais e televisões, anunciam que a inflação recua para 3/4%, abaixo da média da UE. Não acreditem, é tudo mentira. E nós sabemos que assim é, porque temos a nossa própria régua de cálculo quando vamos aos supermercados.  

         - Alguém que foi pobre, facilmente se transforma num capitalista furibundo. Exemplos não faltam. Aquele infeliz futebolista é um deles.