segunda-feira, julho 10, 2023

Segunda,10.

O aperto à liberdade aperta-se cada dia com o pretexto nobre (dizem eles) de proteger a democracia. A França quer abrir as fronteiras dos telemóveis à polícia para que possa espiar suspeitas de crimes, usar câmaras e microfones remotamente e ainda dados de geolocalização e até outros aparelhos como computadores portáteis.. Nunca estivemos tão próximos de vivermos em campos de concentração como hoje. O feitiço das redes sociais, voltou-se contra o feiticeiro.  

         - Aliás nada disto é surpresa. O mês passado França, Alemanha, Grécia entre outros países incluindo Portugal, prepararam um projecto de lei, espécie de adenda que introduz uma excepção na nova lei europeia dos media, relacionada com a Carta dos Direitos Fundamentais da UE. Que pretendem eles? Querem que lhes seja permitida a vigilância dos jornalistas e dos seus interlocutores (diga-se fontes), até mesmo a utilização de software-espião quando as autoridades considerarem necessário. A coisa é séria. A tal ponto que o Governo sueco que presidia então ao Conselho, à ultima hora, acrescentou um parágrafo onde afirmava “que o artigo 4º não prejudica a responsabilidade dos Estados-membros nacionais”. Esta é uma “excepção” francesa, que quase todos os países saudaram. Estamos lixados, nós que dispensamos o algoritmo e somos pela liberdade de expressão. 

         - A voz do patrão, naquele seu tom roufenho e ar de padreco reformado de aldeia nortenha que tem o ministro da Educação, veio achincalhar um homem sério, um governante equilibrado dos dois ou três que o Governo tem, apupando o trabalho da comissão de inquérito ao caso TAP, presidida por Lacerda Sales, de "procuradores do cinema americano da série B da década de 80". Sales respondeu-lhe como grande senhor que é, deste modo: "Isto parece-me uma falta de respeito pelo trabalho dos senhores deputados, da comissão e do próprio Parlamento. Relembro que o Governo responde ao Parlamento. Nenhum político está isento de respeitar as instituições, por maioria de razão o Parlamento, especialmente os ministros". O outro, insignificante como é, devia ficar calado especado a olhar o deus que o criou. São parecidos. 

         - Aproveitando o ar climatizado do Continente, abanquei à entrada para duas horas no romance. Sofríveis. Tendo começado num arrasto de desespero, terminei com uma página que me parece conseguida. Se vos disser que as centenas de vultos que passaram pelos cantos dos meus olhos não vi um só, não minto. Tudo o que acontecia à minha volta, desaparecera para me concentrar no trabalho e absorvido por ele vivi num outro lugar que nenhum descobridor encontrou.

Não sei como as minhas irmãs (para utilizar a norma de S. Francisco) hortenses, aguentam assim viçosas não obstante estarem todo o dia ao sol tórrido. Mistério. 

O Black é mais esperto e escolhe os beirais das janelas, não só para se abrigar do calor, como para estar de atalaia à fiel namorada de há três anos que não larga a beauté.