sábado, julho 22, 2023

Sábado, 22.

Ontem, a convite do Paulo Santos, desloquei-me com o João a Belém à inauguração da exposição de pintura de João Vaz, integrada no programa comemorativo dos 160 anos do Museu da Marinha. O protocolo exigia pompa e circunstância e eu tinha chegado de calças de linho branco, t-shirt creme às litas azuis, sapatos castanhos; enquanto o meu companheiro, mais habituado às formalidades do Parlamento, vestia fato completo azul escuro, gravata e sapatos pretos. À entrada, fomos fotografados com o curador meu amigo e entrámos no belo edifício com permissão de subir ao primeiro andar antes da inauguração propriamente dita do acontecimento. Isto porque, não tendo convite nem o nosso nome no livro de honra à entrada, foi o Paulo Santos que se encarregou de encontrar a saída para o crime de lesa majestade. Depois de ter sido apresentado a altas patentes da Armada, com aperto de mão e risinho cínico, avançámos para o interior onde a agitação era medonha, mais a mais porque estaria para chegar o oficial das vacinas covid-19. Aí nos acomodámos num banco duro, eu a observar com a minha atenção habitual o burburinho do pessoal em farda de gala, homens e mulheres, a agitação solene como se todos dançassem o vira nortenho para nós. Eu devo ter feito figura bizarra a toda aquela gente vestida a rigor e daí que sentisse os olhares cruzados sobre mim. A dada altura diz-me o Corregedor, “por mim ia-me embora e voltaria daqui a uns dias”. Assim dito, assim cumprido. Alçámos daquele ambiente a tresandar a salazarismo, cheio de salamaleques, respeitinho, hierarquizado e fomos enfiar-nos no café em frente da parada. Daí vimos chegar o homem das vacinas, com direito a banda da Armada (por sinal tocando afinada e muito bem), e outras ditas individualidades, todas em carros pretos (Mercedes e Volvos), com motorista de fato escuro e gravata vermelha, que por sinal assim que puderam rasparam-se para a mesa ao nosso lado, a emborcar cerveja, eram uns seis, que com o calor não se brinca. Estava farto daquele espectáculo ridículo e dispendioso e insistia com o João para que partíssemos. Nunca deixei de pensar que Portugal, na matriz profunda, pouco mudou com o 25 de Abril. No lugar dos que foram corridos, depressa se instalou uma resma de “democratas”, amantes do poder e das honras palacianas, que agora apregoam a nova ideologia do clima, mas gastam à tripa-forra, privando o povo do essencial: consumo de energia no conforto das suas casas, carro para deslocações, e um sem-fim de hábitos inimigos dos gastos mesmo os mais elementares, para que eles possam continuar a deslocarem-se de carro onde nas traseiras vai alguém importante acima de todos os outros.  

         - Eis o belo programa para eliminar trabalhadores, jovens, imigrantes das ruas onde dormem em tendas e cartões: o Estado arrenda, por exemplo, um T5 em Lisboa, por 2.200 euros e depois subarrenda por 900 euros mês aos necessitados de um teto! Isto tem alguma lógica? Parece que sim, no entender do gestor António Costa. Criar estruturas, pensar o país de baixo para cima, regular, retirar mordomias, aumentar salários e reformas são atitudes que não ocorrem a este Governo miserável. É mas fácil ter o povo subjugado às esmolas periódicas, que organizar a sociedade com hipóteses de dignidade para todos. 

         - A guerra na Ucrânia caminha a passos largos para um conflito sem dono. Não contente por ter incendiado 60 mil toneladas de cereais que tanta falta fazem aos povos africanos e à humanidade num todo, o fascista que reina em Moscovo, parece querer estender a guerra à Polónia. 

         - Dia de muito trabalho: regas, pratos para arquivo, apanha de amoras, ida ao mercado dos pequenos agricultores.