sábado, julho 15, 2023

Sábado, 15.

O chamado caso da morte de Jéssica, a menina de três anos vítima de maus-tratos, que morreu o ano passado em Setúbal, mereceu do Ministério Público 25 anos de prisão para os familiares, incluindo a mãe.  A procuradora foi mesmo ao ponto de afirmar que “os arguidos agiram de forma cobarde contra uma criança indefesa”. De facto, não se conhece um tal grau de violência que nos perturba a todos e faz pensar. 

         - Vou citar mais uma vez António Barreto e sempre com prazer, que de forma lapidar reflecte todas as semanas sobre os casos e casinhos de que António Costa tanto gosta e com eles distrai o povo do essencial que não sofre alterações e tanto prejudica a democracia. “Em teoria, os partidos políticos são perfeitamente capazes de resolver a corrupção e de legislar em conformidade. O problema é que são homens e mulheres que fazem os partidos. Mesmo os que lutam contra a corrupção. Na verdade, assiste-se, neste domínio, à síndrome da duplicidade desportiva: pode-se destruir, matar e roubar, desde que os autores sejam amigos e os prejudicados adversários. Outra regra a seguir pelos amigos: não ser visto pelo árbitro, pela policia ou pela justiça! Tal como o futebol, a política partidária pode ser destituída de moral. Roubar não é necessariamente mau, desde que não se veja. E não é muito diferente do capitalismo: tudo é possível, desde que seja bem feito! E é absolutamente igual ao comunismo: desde que lucrem os amigos e sejam prejudicados os inimigos.”  

         - Assim é com efeito. Atente-se no novo caso relacionado com o milionário Armando Pereira e a sua Altice de má memória. Crimes de corrupção privada desta vez na forma passiva e activa. O rol de acusações dele e dos assistentes, é medonho: só os crimes de fraude fiscal qualificada é superior a 100 milhões de euros! Ele é considerado um dos homens mais ricos de França onde ocupa a 71ª posição, com uma fortuna avaliada em 1600 milhões. Eu fico doido quando leio estas coisas. Para que quer o homem uma tal fortuna que o torna um delituoso aos olhos de todo o mundo salvo aos dos seus pares tão gananciosos como ele! Aqui deixará tudo e, sobretudo, a imagem que perdurará da sua passagem por este mundo – uma imagem de contrabandista e criminoso. O resto, os valores materiais, um simples terramoto os enterra, um filho doido varrido pelo lucro, os derrete. 

         - Rui Rio, majestoso, ontem na SIC. Defendeu-se como um guerreiro do que o MP o acusa. Só não concordo quando afirma: “Ao atacar-me a mim, estão a atacar a democracia toda. Quando o Ministério Público dá a entender que são todos corruptos, é a democracia que estão a atacar e eu estou aqui a defender a democracia” Sim, mas. Eu inclino-me para o MP como guardião da democracia, porque da parte dos políticos a vergonha, a bandalheira, a corrupção é tal e tanta que, não sendo generalizada, amarfanha uma grande totalidade dos nossos anafados governantes, doutores da mula ruça. O Ministério Público trabalha noite e dia, 24 sobre 24 horas, a perseguir criminosos políticos e muito pouco delinquentes de delito comum. 

         - Ontem estive duas horas à espera de comboio para regressar a casa. Foi a primeira vez que tal me aconteceu, pois o Fertagus, sendo privado, raramente faz greves. A multidão foi-se acumulando no cais e às tantas o burburinho era mais que muito. Se algum político ali estivesse bem podia fugir, porque as ameaças, os nomes (“cambada de corruptos”, “aquele bardamerdas de ministro dos comboios”, “se fosse lá fora já tinham incendiado as carruagens todas”, “no tempo do Salazar não faziam eles isto”) compunham e exaltavam a revolta que varria a gare de um lado ao outro. 

         - Acabei de pagar os milhares que me pediu o Dr. Cambeta para voltar a ter um sorriso que qualquer medíocre actor de Hollywood inveja. Podia ficar como o Gordilho, desdentado e não teria durante estes últimos seis meses o aperto financeiro que tive, ao ponto de contar os patacos. Foi difícil, mas já posso morrer tranquilo. E morto, ter a certeza que, cruzando-me com François Hollande, não ouço aquela bojarda socialista: “Olha, ali vai mais um pobre desdentado.” Só um honesto socialista, ama deste modo os pobres infelizes.