sexta-feira, julho 07, 2023

 Sexta, 7.

A primeira oração da manhã foi para a minha saudosa irmã. Se fosse viva faria hoje 89 anos. Deixou-nos há dois, mas a sua presença continua a ser-me indispensável. 

         - Como a obra de Julien Green. Terminei a releitura das 1021 páginas do seu Toute Ma Vie (vol. 3) que tinha iniciado em Janeiro deste ano. Não levei a leitura como tarefa diária, deixei-me arrastar por ela ao sabor das horas, da vontade, da necessidade, da companhia que não se dispensa nunca. Desta passagem aconteceram mais anotações, sublinhados e uma mais profunda compreensão do autor, de uma época, de cultura tout court

         - “Ainda não sei qual é que é o relatório final” – português corrente de político, no caso da “doutora” relatora da conclusão do trabalho da TAP na Assembleia. Que saudades do excelente português de Jerónimo de Sousa, operário metalúrgico! 

         - Outro dia fui almoçar a casa da Maria José. Ela quis retribuir-me a raclette que ofereci aqui em casa a alguns amigos, entre os quais ela. A conversa estendeu-se e os assuntos atropelaram-se. A dada altura voltei a falar-lhe da ganância do meu vizinho e o resultado de não ter um único bago este ano. “Eu sou católica e acredito que Deus dá em troca da avareza o oposto do que se espera.” 

         - A propósito. Alguns amigos mais frequentes, admiram o teto da cozinha com acenos positivos de cabeça. Contei-lhes que o facto de ter desaparecido o perigo de as placas isolantes lhes caírem em cima, foi obra do meu amigo Robert Mardon. Com efeito, nos poucos dias que a Annie e ele aqui passaram, em Maio, o marido meteu mãos à obra e numa manhã fixou todas as placas aos barrotes, desaparecendo assim a iminência de um desastre que há muito me assustava. O John emprestou o escadote que tocava o telhado e prestou-se também a ajudar. Agora, todas as manhãs ao pequeno-almoço, olho a divisão como a olhei quando há trinta e tal anos, o João e eu, mais ele que eu, acabámos de a pintar e fizemos a primeira refeição no seu interior. Chovia se Deus a dava. Estávamos a 9 de Setembro, dia do meu aniversário. A casa era e foi durante vinte anos duas divisões, sem electricidade (ainda guardo os dois petromaxes), onde eu chegava todos os sábados de manhã, ébrio de deslumbramento.