segunda-feira, julho 17, 2023

Segunda, 17.

Prosseguem as greves dos barões da CP. Fez-me muita pena aquele casal de velhotes que encontrei na gare, duas malas pesadas que arrastavam com dificuldade, quando leram no ecrã da estação que o comboio que iam tomar tinha sido suprimido. Olharam-se, atarantados, sem saber o que fazer. Sentaram-se depois no banco ali perto inquirindo-se do destino a dar aos seus projectos. As pessoas passavam apressadas; eles ali ficaram afundados no escuro denso do vazio, da inquietação, do imprevisto.     

         - O que disse quarta-feira dia 12, veio ao correr dos dedos, diretamente do cérebro que tudo retém, empurrado pelo coração que espalha pequenas cintilações que incensam a página em branco. No fundo, as palavras de Mateus (26: 27-28-29 do texto grego), são o sustentáculo da nossa vida e da Igreja. Na última Ceia do Senhor, ficou registado o futuro e a base da nossa existência presente e futura. Toda a teologia, toda a imensa cultura religiosa, pouco acrescenta às derradeiras palavras de Jesus Cristo aos seus discípulos. Elas são tão simples, tocam-nos com tal profundidade, que todos os tratados nada acrescentam que nos faça aproximar de Jesus. É por isso, que o carnaval da vinda do Papa Francisco a Portugal, me parece ridículo. A mesa dos altares das nossas igrejas, como consubstanciação da última reunião com os apóstolos, seria suficiente para com dignidade acolhermos o Sumo Pontifico. Mas aqui imperou o novo-riquismo próprio dos povos subdesenvolvidos. 

         - Enquanto isto, António Costa, igual a si mesmo, veio derramar promessas sobre a arte de bem velar pela corrupção. Diz sua excelência, cúmplice do camarada José Sócrates que justiça alguma consegue deter, que sempre atacou a corrupção, mas não convence nem o patego de Trás-os-Montes. De contrário, fixemo-nos na  Entidade para a Transparência, que o Governo levou quatro anos a procurar instalações, enfim encontradas em Coimbra. Depois de haver sede, continua a não haver secretárias, armários, plataforma electrónica, sofás confortáveis, sanitas, de forma a que em consonância com instalações dignas possam os responsáveis verificar as declarações de rendimentos e incompatibilidades dos políticos e titulares de cargos públicos. Apetece perscrutar o pensamento de Costa: quanto mais tarde melhor. A lei das incompatibilidades foi aprovada pela Assembleia da República em 2019! Tudo isto é risível, senhores. A mim não me enganam. 

         - Ontem, repousando no sofá do salão, pensei por muito tempo em Ana Boavida. À medida que ela se vai desvendando, arrasta-me consigo num movimento que descobrindo-se me descobre. Até talvez ao final, quando ficarmos frente e frente, estupefatos, por havermos contado aquilo que a nossa natureza comum devia ocultar.