terça-feira, janeiro 04, 2022

Terça, 4.

Por assim dizer tenho vivido nestes últimos seis meses mergulhado na Segunda Grande Guerra. Primeiro com o Journal de Guerre (1939-1943) de Paul Morand, de seguida com o segundo volume de Julien Green (1940-1945). Ao todo 2.136 páginas que me esclareceram e me trouxeram dados pessoais sobre o conflito. Morand fez parte do Governo Vichy; Green exilou-se nos EUA combatendo Laval e o seu governo. Em Fevereiro de 43, Paul Morand vem a Portugal e em meia dúzia de linhas traça o perfil do país sob o comando de Salazar: “Quand on voit la misère d´ici, les bas salaires, jamais relevés depuis vingt ans, soixante-dix pour cent d´illetrés, les ouvriers payés dix escudos, par jour, prix de 1914, la syphilis, la tuberculose, on est étonné de tout ce qui n´a pas été fait encore.” Pág. 716, Ed. Gallimard.  

         Portugal mudou? Sim. Todavia, a questão que se põe é esta: mudou mesmo? Ressalvadas as devidas proporções, à parte a democracia e o fim das guerras coloniais, o país evoluiu mas as condições de vida são praticamente as mesmas. Os salários continuam baixos, reformas de miséria, um indecente desprezo pelas pessoas, duas classes marcadamente a dividir a nação: a dos políticos com todas as mordomias, o resto a ver passar o progresso e a justiça social; a pobreza a crescer todos os dias. As estatísticas dizem que já não somos analfabetos. Todavia, não fomos ensinados a pensar, nem convém; basta-nos alinhar duas linhas do programa da quarta classe, para gostar de futebol, concursos televisivos, festas e arrais e anotar nas estatísticas oficiais que somos cultos. 

         - Quando os dirigentes diziam a meio do ano passado que a Covid-19 já era, o que os números (impressionantes) nos apresentam é a sua irresponsabilidade para com os cidadãos em particular médicos e enfermeiros, pessoal auxiliar, etc. Números recorde estão a sair todos os dias por cá e por todo o mundo, mostrando que o que se exigiria aos governantes era, no mínimo, se mantivessem de sobreaviso. Os EUA tiveram ontem um milhão de casos de covid-19, no mundo inteiro 292 milhões identificados desde o início da pandemia, 5,4 milhões de mortes, segundo a universidade norte-americana Johns Hopkins publicados no Público de hoje. Por cá, os novos infectados, ultrapassam os 10 mil. Dizem os médicos que uma grande percentagem é dos que não se quiseram vacinar, e vai daí estuda-se já na UE a sua obrigatoriedade. Sou contra. Já não me oponho a que sejam obrigados a pagar as despesas da hospitalização.